O que mais nos faltou desde as vésperas desta Copa foi verdade. Aliás, esta é uma Copa que, há uns cinco anos, é vítima de um festival de mentiras. Começou fora de campo, com as previsões catastróficas sobre aeroportos, estádios, protestos, atos terroristas e afins, e hoje se escancarou dentro do gramado.
A verdade é que nunca tivemos uma grande seleção, capaz de conquistar o hexa e de fazer bonito em casa. E isso não quer dizer que temos o direito de ofender jogadores, avacalhar o técnico ou queimar bandeiras. Perdemos porque merecemos perder e porque no futebol alguém ganha e alguém perde -e, no geral, vence o melhor (hoje, indiscutivelmente a Alemanha).
Fomos vítimas de uma indústria que, por um lado, nos assustou dizendo até que o PCC agiria nas ruas matando pessoas e, por outro, nos enfiou goela abaixo um time de heróis invencíveis retocados em photoshop e ilustrados em outdoors, em caixas de cueca, em embalagem de sorvete, em gôndolas de supermercados. Nas narrações e nas mesas redondas, mais se torceu do que se analisou e os mesmos que começaram a cobertura do jogo derradeiro apostando na vitória do Brasil (como se tivesse o poder de prever) acabaram cravando críticas ferrenhas contra "o maior vexame da história", indo do ufanismo bobo ao "mimimi" infantil.
A primeira verdade que faltou é que a Copa que o jornalismo alardeou como um retumbante vexame é um sucesso -e quem reconhece isso é o mundo. A segunda é que a seleção que a publicidade e o jornalismo publicitário pintaram como um plantel de heróis é formada por um grupo de jogadores que ainda têm muito a aprender - e que não merecem nem ser exaltados, tampouco execrados, pois deram o que podiam dar.
Não tenho vergonha nenhuma de todos os gritos de gol que dei pela seleção do meu país, nem jamais usarei qualquer palavra ofensiva a qualquer jogador ou membro da comissão técnica. E tenho orgulho pela Copa que o Brasil está fazendo, certamente um acontecimento inesquecível que contribui para mostrar ao mundo nossa alegria, nossa diversidade, nossa hospitalidade e nossa competência em abrigar o maior evento do planeta.
Encaremos a verdade que não está no noticiário nem na propaganda, porque só a verdade nos liberta de dois dos piores defeitos humanos: a alienação e a hipocrisia.
Foto: Agência Brasil
Concordo plenamente. Disse tudo.
ResponderExcluir=)
ExcluirConcordo, a imprensa precisa de mais jornalistas como vc!
ResponderExcluirInfelizmente, a imprensa em geral não quer jornalistas que pensam, preferindo os capachos que sigam os interesses dos donos. A imprensa vem matando o jornalismo faz algum tempo.
ExcluirTexto perfeito!!
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