Existe um limite para os pretensos profissionais do humor? Qual seria? O que separa o direito à gargalhada aos que veem graça no esculacho alheio da dignidade dos que podem ser ofendidos? Em tempo de Danilo Gentili, de Rafinha Bastos, de Pânico e afins, a pergunta é muito necessária!
Gentili, que ficou famoso com escrachos no CQC e ganhou um programa só dele na TV, mais uma vez passou de todos os limites. Desta vez, comparou uma doadora de leite materno (por sinal, a maior doadora do país), usando sua foto sem permissão em rede nacional, a um ator pornô, com o enorme mau gosto de costume. "Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala", disparou o apresentador (clique aqui para ler).
O resultado da "brincadeira" não poderia ter sido pior. A mulher passou a ser humilhada e chamada de "vaca do Gentili". O dano público à sua honra foi tamanho que ela disse que não mais doará leite materno. Ou seja, além de destruir a imagem de uma pessoa, Gentili conseguiu barrar um ato de cidadania voluntário que deveria ser exaltado nos meios de comunicação, para que pudesse servir de exemplo, e nunca ridicularizado num modelo de mídia em que sobram Gentilis e falta dignidade.
O fato é que as empresas de comunicação do Brasil gozam de um poder sem limites. Publicam o que querem e, mesmo quando processadas por quem ofendem, empurram os processos com recursos infinitos, contando com a influência que exercem diante das autoridades jurídicas (só para lembrar, o presidente da suprema corte brasileira tem um filho trabalhando na Globo e frequenta as rodinhas de celebridades globais). Para piorar, apenas meia dúzia de famílias praticamente manda na opinião pública brasileira, pautando o debate nacional conforme seus interesses.
A mulher ofendida por Gentili recorreu à Justiça, mas dá para acreditar que se fará alguma justiça além de uma multinha que a emissora pagará com o valor de um único comercial veiculado em horário nobre? Para piorar, o caso dará ainda mais ibope ao apresentador, que, consequentemente, ganhará ainda mais espaço na TV para ofender outros e outros e outros... É assim com ele, é assim com Rafinha, é assim com Reinaldo Azevedo (clique aqui para ler sobre o novo colunista da Folha, que defende Feliciano e chamou Niemeyer de idiota)... É assim com os polemistas que se prestam a uma indústria de excrementos desinformativos desrespeitando, ofendendo, deturpando.
Essa é a mesma mídia que, nos anos 80, destruiu a família proprietária da Escola Base, quando escancarou em manchetes acusações de assédio sexual praticado contra alunos sem que o fato nunca tivesse existido e sem que nenhum dos "comunicadores" responsáveis fossem punidos pela mentira veiculada. É a mesma mídia que inventa apagões e crises, que faz chantagem pela alta de juros, que mantém presidenciáveis como "imparciais" colunistas, que especula livremente contra pessoas, contra um país, reforçando estereótipos, preconceitos e intolerância.
Gentili é só a madrinha da bateria dessa mídia podre. Há toda uma avenida Brasil tomada pela fábrica de aberrações comunicativas, cada vez mais bizarra nas alegorias e adereços...
Realmente, indignação total. A precariedade de responsabilidade e moralidade afeta o mundo televisivo; acontece, também, com as brincadeiras sem propósito do Sr. Senor Abravanel que está extrapolando os limites de moralidade.
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