segunda-feira, 5 de maio de 2014

Um velório fantástico!


É bom acordar numa segunda-feira após um feriadão com uma boa notícia. Acabo de ler que o global Fantástico, velho programa-ícone da velha mídia, despencou no ibope a ponto de perder para duas TVs concorrentes, que alguns anos atrás só comiam poeira da Vênus Platinada. Na briga de múmias televisivas, Silvio Santos, do SBT, conseguiu bater o "show da vida", além da Record (segundo matéria do Uol).

A notícia é boa porque monopólio não combina com a verdade em se tratando de mídia. Se já é um absurdo seis famílias dominarem a opinião pública no país como donas de emissoras de TV, rádios e jornais, o fato de existir um canal que manda sozinho na audiência é quase um atestado de óbito dos fatos. Ver a Globo despencar é, portanto, uma chance de haver menos mentiras invadindo a sua sala (não digo minha sala também porque quase não vejo nada além dos Simpsons na TV).

A derrocada do Fantástico, entretanto, tem um sabor especial para mim, pessoalmente. Cresci vendo esse programa e era raro quando eu não ia dormir morrendo de medo aos domingos, após reportagens cheias de catastrofismo sobre vida extraterrestre, vírus e doenças letais que ameaçavam a humanidade, guerras que estavam por vir etc etc etc. O Fantástico sempre foi sensacionalista até no seu slogan ("show da vida") e, quando há show, não há fatos, não há notícia. O programa era um show de horrores, depois virou show de banalidades e finalmente está se tornando um show sem plateia.

O esgotamento do modelo do programa dominical da Globo, porém, não é um caso isolado. Reflete um esgotamento de toda a mídia tradicional (ou, a velha mídia). Depois da internet das conexões, das mídias sociais e do compartilhamento de informações em rede por meio de perfis pessoais, não se sustenta mais o modelo unidirecional (em que um veículo emite informações pretensiosamente oniscientes para um espectador passivo e idiota). 

Na mesma esteira do Fantástico está outro "best seller" global, o Jornal Nacional, que vem tendo históricos recordes negativos. Outras emissoras de TV, jornais e revistas amargam o mesmo fenômeno e não há caminho de volta: a ladeira abaixo será inevitável a quem não aprender dialogar, interagir e se conectar com o público. 

A Globo, assim como Folha, Estado, Veja, entre outros títulos da velha mídia, não conhece o caminho do diálogo com seus espectadores. Esses veículos nasceram e cresceram sustentados em modelos ditatoriais, apoiaram o golpe militar de 1964 e sempre trataram seus leitores e telespectadores como uma massa acrítica passível de manipulações. No momento atual, investem, em coro, nas pautas que tratam o Brasil como o pior dos mundos, e fazem isso financiados por especuladores e políticos interessados na destruição da imagem do país. Na verdade, porém, a grande tragédia ocorre dentro dos suntuosos prédios das empresas de comunicação. Tragédia para elas, sorte do país que existe fora delas.

Feliz do país que não precisa de Fantástico, porque a vida não é show. A velha mídia vive seu epílogo e o velório já acontece em horário nobre, com sepultamento para breve. Plim-plim!

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