segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Cláudio Cavalcanti: um legado nobre


Numa época em que o celebritismo virou quase uma doença incurável, figuras como Cláudio Cavalcanti são exemplos que fogem à regra midiática -e nos apontam caminhos dignos. Ele brilhou nos palcos e nas telas da TV com enorme talento, mas também brilhou na vida.

Começou a trabalhar aos 16 anos (e não foi em nenhum reality show, mas atuando ao lado de Nathália Thimberg, Sérgio Britto e Fernanda Montenegro). Estreou na televisão labutando ao vivo, onde trabalhou em mais de 50 novelas. No teatro, encenou mais de 40 peças e tem 5 livros publicados.

Era por trás do artista, entretanto, que havia um imenso ser humano. Cavalcanti escolheu uma causa e lutou verdadeiramente por ela. Sua escolha foi pelos seres mais indefesos e injustiçados pela espécie humana: os animais. Na vida privada, optou pelo vegetarianismo, em respeito e coerência com sua causa. Na esfera pública, ingressou na política criando leis de proteção à vida animal.

Cavalcanti proibiu rodeios e circos com animais no Rio de Janeiro, introduziu esterilização gratuita como método de controle populacional e de zoonoses, além de ter implantado multas para maus-tratos. Também foi um grande divulgador de temas como esse, através do seu site (clique aqui para ver).

Que este belo legado permaneça entre nós como ensinamento de vida digna. E que a luz deixada entre nós ilumine também a nova jornada de Cláudio Cavalcanti.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O festival da desinformação

Fiz uma pesquisa e montei (abaixo) alguns dos muitos temas que foram bombardeados pela velha mídia este ano como anúncios do fim do mundo (ou, do fim do Brasil, melhor dizendo). As manchetes de 2013 começaram com um apagão energético que nunca aconteceu, depois com uma hiperinflação só vista no passado de décadas atrás, em seguida uma superdesvalorização do real completamente irreal e depois um aumento do desemprego completamente surreal.

Tudo isso foi anunciado, em coro, pela velha mídia: TV, jornais, revistas e rádios da Globo, mais Folha, Estadão, Veja e outras revistas da Abril, e ainda seus braços na internet. Some-se a isso a disseminação dessas mentiras através das agência de notícias que essas empresas mantêm, contaminando jornais pequenos que as assinam para nutrir o noticiário nacional.

A pergunta é: por que a velha mídia faz isso? Em que lhe interessa um Brasil muito pior do que é? 

Tenho meus palpites, que não vêm de achismo, já que trabalhei mais de uma década neste carcomido modelo de comunicação  (e hoje faço estudos acadêmicos sobre ele). A velha mídia tem donos, esses donos têm velhas cabeças que remontam ao feudalismo, eles fazem negócios e, nesses negócios, há muitos outros interesses acima do dito (e quase nunca respeitado) interesse público. O noticiário, então, se torna apenas uma moeda de troca. E os fatos são triturados e moldados às conveniências privadas. Bem privadas, por sinal, em vários sentidos.

Felizmente, não só os fatos em relação ao Brasil, mas também os fatos em relação à velha mídia nos dão esperança, pois na mesma proporção que mente, esta despenca em credibilidade e audiência diante das novas conexões digitais. 


A médica louca e o pai repórter


É de causar nojo a atitude de uma médica completamente descontrolada em um hospital público de São Paulo, enfurecida com enfermeiros, negando-se a atender uma criança, agredindo e ameaçando um pai que a filmava em seu surto psicótico-arrogante-antiprofissional-desumano-criminoso.

Mas a história, apesar de triste, escancara uma nova era. Não em relação à medicina, mas no tocante ao poder que cada um passou a ter com as novas conexões digitais. Um celular na mão e uma conta no Youtube (ou em qualquer outra mídia social) bastam para que a cidadania seja exercida em um novo patamar.

Em um momento do vídeo, o pai-"cinegrafista" chega a dizer "Vou chamar a reportagem para denunciar". Não precisa! Ele já era a reportagem ali, e os veículos por onde seu vídeo iria navegar também são outros, não dependem de editores ou diretores comerciais (que antes de liberar a publicação analisariam se o hospital é anunciante e se o governo que o mantém é "parceiro").

As novas conexões digitais vêm derrubando os muros entre o que é fato e o que é notícia. E o vídeo corajoso feito pelo pai de uma criança que precisava de atendimento médico, diante de uma "doutora" louca e agressiva, merecia um prêmio Esso.

domingo, 22 de setembro de 2013

Entrevista-bomba


Ives Gandra Martins é um jurista com 56 anos de advocacia, dezenas de livros publicados e sua postura diante de muitos temas é sempre conservadora. A Folha de S.Paulo é um jornal de quase cem anos, apoiou o golpe militar de 64 mas depois embarcou nas Diretas Já e sempre tem como colunista fixo um tucano, que, "coincidentemente", é pré-candidato a alguma coisa (hoje é Aécio, ontem foi Serra).

Pois Ives Gandra e Folha de S.Paulo, ambos nada alinhados ao PT ou à esquerda brasileira (muito pelo contrário!), trazem neste domingo uma notícia bombástica (clique aqui para ler). A jornalista Monica Bergamo, da Folha, entrevista o jurista e ele diz, ipsis literis, que José Dirceu foi condenado sem provas pelo Supremo Tribunal Federal. E argumenta focando na novidade imposta à Suprema Corte pelo seu hoje presidente Joaquim Barbosa: a teoria do domínio do fato.

Gandra explica: "Do ponto de vista jurídico, eu não aceito a teoria do domínio do fato. Com ela, eu passo a trabalhar com indícios e presunções. Eu não busco a verdade material. Você tem pessoas que trabalham com você. Uma delas comete um crime e o atribui a você. E você não sabe de nada. Não há nenhuma prova senão o depoimento dela -e basta um só depoimento. Como você é a chefe dela, pela teoria do domínio do fato, está condenada, você deveria saber. Todos os executivos brasileiros correm agora esse risco. É uma insegurança jurídica monumental. Como um velho advogado, com 56 anos de advocacia, isso me preocupa.O domínio do fato é novidade absoluta no Supremo. Nunca houve essa teoria. Foi inventada, tiraram de um autor alemão, mas também na Alemanha ela não é aplicada".

Reação minha ao ler (e imagino que de muitos): Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!! 

Pausa para respirar. Voltemos e reflitamos sobre o tema.

Isso não significa que Dirceu seja um anjo, que as relações entre os poderes não tenham vícios seculares e horrendos no Brasil, que o PT não tenha frustrado expectativas ao ceder a velhas formas de governar, nem que a política brasileira não precise de mudanças em suas vicissitudes. O fato, porém, é que, diferente do que sempre fez, o STF juntou num único processo 40 políticos (combinando até o número com os 40 ladrões de Ali Babá) e cedeu a um jogo midiático ao tratá-los como os únicos corruptos da história do país, precisando condená-los à forca e a qualquer custo, porque o 12º juiz era a Rede Globo, que jogou com o peso da opinião pública, emparedando e até ameaçando os ministros do Supremo. Ou seja, formou-se um tribunal de exceção, coisa típica das ditaduras (e a Globo entende bem de ditadura, pois apoiou os 20 anos sangrentos que sufocaram o Brasil).

Agora, o preço de levar Dirceu e seus seguidores à forca é bastante caro para todos os brasileiros: se a mesma regra que valeu para condenar os "mensaleiros" valer para todos nós (e assim deve, pela jurisprudência), você que é um empresário ou um chefe de setor, por exemplo, se for acusado por um único funcionário seu de atitude corrupta, deverá ser condenado sumariamente, mesmo que não haja mais nenhuma prova contra você além do depoimento do acusante. Ora, eis a teoria do domínio do fato, pois se você é superior no setor ou na empresa, deve saber de tudo e se responsabilizar por tudo o que acontece ali. Então, cadeia - e imediatamente!

Acontece que a mesma regra já não vale, por exemplo, para os mensaleiros do outro lado da moeda (o PSDB), sobre os quais recai denúncia semelhante à que recaiu sobre os políticos do PT. O mesmo Joaquim Barbosa, que juntou os "40 ladrões" petistas num mesmo processo, transformando o STF em um estádio de futebol em partida que vale o campeonato, desmembrou os processos contra os tucanos, que já correm o risco de prescrever sem nenhuma condenação.

Diante desse contexto, só me resta uma constatação (que, aliás, eu já desenhava desde o início deste julgamento): não se moralizam as relações políticas de um país criando regras de exceção para condenar uns, mas mantendo outros impunes. A corrupção no Brasil (e no mundo!) não tem partido, pois ela é um vício que ecoa das primeiras organizações hierárquicas humanas e está presente até nas mais banais atitudes, como o motorista que "dá um jeitinho" de salvar sua CNH que estourou em pontos sem precisar passar por "reciclagem", ou que bebe e dirige; quem fura fila; quem não devolve o troco a mais dado pela caixa do supermercado; quem sonega; quem especula; patrões que não respeitam leis trabalhistas etc etc etc...

Levar ou não levar Dirceu à forca, portanto, não vai mudar o Brasil. E, se se quer vestir luto, seria menos hipócrita fazê-lo contra um modelo de justiça que materializa inúmeras injustiças. Exemplos? Pimenta Neves matou a namorada, foi condenado a 14 anos de prisão mas, apenas dois anos depois, já está em regime semiaberto (clique aqui para ler Pimenta nos nossos olhos). O assassino da missionária Dorothy Stang está sendo julgado pela quarta vez e, quando esteve preso, foi presenteado com a liberdade graças a liminar do ministro Marco Aurélio Mello (o mesmo que brada contra a corrupção hoje). O médico estuprador Roger Abdelmassih, condenado a mais de 200 anos de prisão, ganhou a liberdade e fugiu do país graças a uma decisão do juiz Gilmar Mendes (outro que faz agora discurso pela moralidade). O garoto que, embriagado e dirigindo em alta velocidade, atropelou e decepou o braço de um ciclista na Avenida Paulista, não o socorreu e só parou para jogar seu membro em um rio, está livre, leve e solto. E a Globo é uma das maiores sonegadoras da pátria amada.

Plim-plim!

sábado, 21 de setembro de 2013

Francisco não é Malafaia - 2



Em 29 de julho último, escrevi aqui que o papa Francisco não é um líder comparável a figuras como o pastor Silas Malafaia (clique aqui para ler). Na ocasião, Francisco havia declarado, no voo de volta ao Vaticano após visita ao Brasil, que "Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?".

Pois o papa volta a temas espinhentos aos fundamentalistas cristãos e novamente sinaliza que não compactua com a ideia de uma igreja perdida na intolerância e de costas às grandes causas por uma humanidade melhor. "A Igreja Católica insiste demais em pregar contra o aborto, a homossexualidade e a contracepção e precisa demonstrar mais piedade", disse Francisco, completando: "Temos de encontrar um novo equilíbrio, ou até mesmo a estrutura moral da igreja pode cair como um castelo de cartas, perdendo o frescor e a fragrância do Evangelho."

Fiat Lux!

Diferente do papa anterior, que pregava a transformação da igreja católica em uma capela de poucos adeptos de um moralismo medieval, o atual pontífice navega a caminho do mar aberto e da compreensão da evolução humana. Isso porque, na visão dele, a despeito do dogma, o mais importante é a essência: o amor ao próximo, a piedade, a solidariedade.

Claro que isso não significa que a igreja católica deva mudar sua estrutura dogmática, mas ao menos sai das trincheiras das religiões que travam uma guerra diária contra tudo e contra todos que não se vistam da "moral e dos bons costumes" que fazem ode à hipocrisia. Este papel é o de Malafaia, Feliciano e seus discípulos, mais incomodados com a intolerância do que com o amor ao próximo.

O exemplo de Chiquinho Scarpa


Quando vi o "conde" Chiquinho Scarpa posando, de terno impecável, com uma pá na mão e diante de uma cova aberta para enterrar seu carro de um milhão e meio de reais, vi ali a fuça escancarada da elite brasileira: fanfarrona, cafona, arrogante e sempre pronta a ostentar. Mas, Chiquinho surpreendeu e mostrou o avesso de tudo isso, dando um belo exemplo de como abraçar boas causas na era da imagem e das conexões digitais.

A ideia de criar uma polêmica e, no auge dela, mostrar um outro lado da história, relacionando o enterro de um bem material precioso à preciosidade da vida, foi genial. Chiquinho Scarpa usou um brilhante parâmetro para uma sociedade consumista: tal qual não quero enterrar meu carro que tanto vale para mim, não posso permitir que enterrem meu corpo negando ajuda a valiosas vidas que poderiam ser salvas com meus órgãos, que apodrecerão sob a terra.

A iniciativa é emblemática porque revela os novos caminhos do mundo digital. Com uma mídia social e sem precisar de um milímetro da mídia tradicional (ou, velha), conseguiu-se efeito até maior que as muitas campanhas publicitárias milionárias em defesa da doação de órgãos. E eis que se comprova o poder que as redes sociais deram a todos, tanto aos que estão conectados quanto aos que ainda o farão.

Nunca imaginei que um dia pensaria isso, mas façamos como Chiquinho Scarpa: usemos esse poder de mídia para causas em defesa de um mundo melhor. É possível até para um playboy, é possível para todos nós!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Uma noite na novela


Diante de tanto barulho na mídia sobre as pancadas que a personagem de Suzana Vieira daria na amante do seu marido, resolvi dar uma saidinha dos Simpsons para ver o folhetim global ontem.

Deparei-me com a esposa idiota e traída com seu filho bicha má vingativa indo até o flat da amante interesseira do marido sem escrúpulos, machista e homofóbico. Ela bate na amante interesseira, mas aceita de volta o marido sem escrúpulos, machista e homofóbico e transa com ele na mesma noite em que o flagrou na cama com a amante interesseira.

Aí, a ex-mulher da bicha má vingativa, que transa com o mordomo da mansão e também com a própria bicha (mesmo depois de humilhá-lo diante da família revelando que ele é gay), dá-lhe uma "lição" da alma feminina ao tentar acalmá-lo diante da frustração do seu plano de vingança contra o pai (o sem escrúpulos, machista e homofóbico). Ela diz que as mulheres sempre perdoam as mais absurdas traições dos homens quando os amam, ou seja, são trouxas, submissas e estúpidas numa sociedade onde quem manda é quem tem culhões.

O capítulo termina com a amante interesseira dizendo ao marido sem escrúpulos, machista e homofóbico da esposa idiota e traída que está grávida dele, e não quer apenas dinheiro, mas parte do seu império. Então, o plano do marido sem escrúpulos, machista e homofóbico de descartar a amante interesseira para voltar aos braços da mulher idiota e traída, evitando assim a divisão da fortuna da família, fracassa, da mesma forma que fracassou o plano da piriguete cuja própria mãe trama para ela planos mirabolantes para fisgar um milionário com o golpe da barriga.

Volto aos Simpsons, com vontade de mudar de planeta.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Yes, we can, Obama!



Por mais que os entusiastas da inferioridade tupiniquim achem bobagem, a negativa de Dilma ao convite de Obama para uma visita oficial aos EUA é, sim, um posicionamento do Brasil em defesa de sua soberania. E por motivos muito sérios e pertinentes.
 
O próprio Obama usou expediente parecido recentemente, cancelando ida a Moscou quando a Rússia deu asilo político a Edward Snowden. Isso porque o governo russo apenas aceitou em seu território um denunciante do big brother norte-americano, bem diferente do que os EUA fez com o Brasil, espionando a Presidência da República e a Petrobras.
 
Se, historicamente, sempre fomos subservientes aos interesses dos Estados Unidos da América, que financiaram uma ditadura militar sangrenta por aqui, alinhando vários dos nossos políticos entreguistas aos seus planos imperiais geopolíticos e, de quebra, entupindo nossa vida com seus enlatados e costumes, isso não quer dizer que tem de ser sempre assim.
 
O Brasil é a sexta economia global, está entre os 15 seletos países com as maiores reservas de petróleo e tem a maior quantidade de água doce do planeta, ocupa um território continental de qualidades climáticas e biodiversidade invejáveis (boa parte da Amazônia está em nosso território), é o quarto maior mercado de veículos do mundo e o quinto maior para a internet (a nova mídia), tem a maior e mais competitiva metrópole do hemisfério sul e uma das maiores do mundo, além de uma população extremamente criativa (e poderíamos ainda citar outras tantas potencialidades).
 
Estamos muito longe de ser uma republiqueta de bananas, como sugerem as manchetes da velha mídia colonizada. Tampouco devemos aceitar a condição de quintal dos Estados Unidos. Dilma, portanto, representou bem o Brasil ao negar se curvar aos cerimoniais da Casa Branca. É um recado de que parceria só se faz de forma bilateral.
 
Yes, we can, Obama! Podemos, sim, lhe dizer um não!

Só os astros salvam Eike... e a mídia


O exercício diário da informação muitas vezes é um teste aos neurônios. Não pelo desafio de aprender, mas por causa do risco da idiotização. E o problema nem sempre são os fatos em si, mas muitas vezes a forma como qualquer coisa da mais bizarra espécie vira notícia.

No passeio pelos sites, hoje (há tempo não sou cúmplice da derrubada de árvores para ler informações noticiosas), deparo com a Folha-mãe-Dinã, que anuncia, em destaque: "Eike vai renascer das cinzas, indicam astros". E isso não está na seção de astrologia, mas no caderno "Mercado", editoria em que estão (ou, deveriam estar) notícias da economia!

Pode-se dizer que foi um lapso, que a "notícia" foi publicada errada na área de economia, mas não me parece uma defesa aceitável. Simplesmente porque o noticiário envolvendo Eike Batista sempre foi muito mais para o transe do que para os fatos -e não só na Folha, mas nas revistas da Abril e publicações da Globo (clique aqui para ler "Eike Hipocrisia"). Capas e mais capas de periódicos "especializados" estampavam o ex-bilionário como "o cara", e na época se agarravam a parâmetros ainda mais rarefeitos, como especulação, o achismo e a futurologia.

Mas o fato é que Eike naufragou, e sua tragédia se assemelha à tragédia da velha mídia, cada vez menos adepta dos pilares jornalísticos e mais embriagada pelo espetáculo, pelo sensacionalismo e pela manipulação. 

Se só os astros parecem dar esperança a Eike, talvez só um milagre salve o velho modelo de comunicação que se pratica, pretensiosamente imparcial e objetivo mas escancaradamente em delírios.

sábado, 14 de setembro de 2013

As togas e a globeleza

 
Então, Joaquim Barbosa não aguenta mais o julgamento do chamado "mensalão"? Quer terminá-lo o mais rápido possível para que as penas sejam executadas e os condenados as cumpram? Ora, por que o próprio Barbosa faz do caso um picadeiro ridículo que transforma o plenário da suprema corte da Justiça em uma arena da mídia?
 
O que fez o presidente do Supremo na semana passada senão arrastar para as capas da mídia o que poderia ter sido decidido na quinta-feira? Todo o circo foi preparado e protagonizado pelo juiz-Batman, com sessões suspensas e intervalos estratégicos  para o caso ser fermentado mais uma semana nas manchetes da velha mídia (a capa da Veja, por exemplo), que agora colocam o decano Celso Mello na cruz: ou ele vota como querem os "barões da verdade", ou será levado à masmorra.
 
Um dos mais patéticos papéis foi desempenhado por Gilmar Mendes, que protagonizou um teatro que faria inveja a Shakespeare. Parecia estar em um palanque da moralidade o mesmo Mendes que concedeu liberdade ao médico Roger Abdelmassih, condenado a quase 300 anos de prisão por estuprar mais de 40 de suas pacientes e que, graças à atitude de Mendes, fugiu do Brasil. Ora, doutor Gilmar, não somos tão idiotas assim!
 
O caso mensalão (do PT, pois o do PSDB já virou pizza) expôs a Justiça brasileira a um vexame histórico. O mais alto tribunal do país se curvou às vaidades dos seus integrantes togados, cujos discursos parecem feitos sob medida para ser anunciados por Willian Bonner e Patrícia Poeta.
 
Não se trata de achar que José Dirceu é inocente, mas de entender que a lei deve ser igual para todos os criminosos e não criminosos. E, se a lei permite um absurdo excesso de recursos por parte de acusados e condenados, que se mude a lei e que ela passe a valer para TODOS, não apenas em um caso cercado de interesses específicos.
 
Joaquim Barbosa, com ajuda dos coadjuvantes Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, que concedeu habeas corpus ao assassino da irmã Dorothy Stang, transformou o STF em uma pornochanchada diante da qual quem não gosta de José Dirceu deve estar em êxtase. Porém, abre-se um precedente para que os direitos de todos estejam à mercê das cinco famílias que sempre mandaram na opinião pública brasileira e fazem do Judiciário seu quintal.
 
Barbosa está trocando as togas pelo tapa sexo da globeleza.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A 'vara da infância'



Essa imagem corre as mídias sociais, com algumas brincadeiras criativas ligadas a ela, mas muitos que postam o fazem com orgulho de ter apanhado da mãe e, sinceramente, não consigo entender. Primeiro, porque não me lembro de ter sido surrado com qualquer objeto como este por meus pais e acredito ter virado gente sem precisar apanhar. Segundo, porque não consigo enxergar nenhuma possibilidade de a violência física (ou moral) ser uma forma de educação.

É verdade que muitos pais, hoje, são verdadeiros bananas diante dos filhos. Permitem tudo dentro ou fora de casa e sufocam as crianças com objetos de consumo, numa vã tentativa de preencher sua ausência, já que trabalham muito e têm cada vez menos tempo para se dedicar à família. Fazendo isso, geram verdadeiros monstros consumistas que veem o mundo como um grande supermercado a girar em torno dos seus umbigos e que, em geral, não sabem lidar com adversidades e diferenças de pensamento.

Apesar dessa realidade pós-moderna de filhos que mandam em casa, eu não acredito que o que esteja faltando seja a tal "vara da infância" a machucar bumbuns de crianças.

Não acredito que filhos e filhas de hoje precisem ser surrados para se tornarem bons adultos, simplesmente porque, sendo os pais os primeiros exemplos que se tem, se tais atitudes espelharem as dos filhos no futuro, estes vão acabar agredindo outras pessoas, na escola, nas ruas, no trabalho. Vão imaginar que a forma de se conquistar as coisas é através da vara e tudo o que menos precisamos é de mais gente intolerante e violenta no mundo. 

Educar um ser não é fácil e não é qualquer um que tem energia e capacidade para tanto. Ter filho não é obrigação de ninguém, nem um capricho diante da sociedade. É uma enorme responsabilidade não apenas para si, mas para o planeta. Portanto, uma enorme reflexão antes de fazer juntar um espermatozoide com um óvulo faz bem. E, caso se decida por essa fusão mágica da vida, que seja para uma nova pessoa que não seja nem superprotegida e mimada, tampouco educada como num adestramento traumático.

Sem saudosismos nem modernismos bobos! Em um mundo repleto de humanoides sem nenhum valor, o desafio continua o mesmo: formar gente.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A bíblia também diz...

 

Este vídeo circula na internet e é muito, muito, muito interessante.

Nele, está o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, respondendo a perguntas de uma plateia, quando um pastor evangélico se levanta e questiona a posição do político a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo. 

O pastor usa o velho argumento de que "A bíblia diz...". "Jesus diz que o homem deve honrar pai e mãe e se casar, essa é a definição da bíblia. Eu apenas acredito no que a bíblia diz. Eu estou apenas curioso quanto a você, Kevin. Se você se considera um cristão, por que você não acredita nas palavras de Jesus na bíblia?", fuzila o pastor, sem imaginar a resposta que se seguiria.

O primeiro-ministro, então, responde com uma aula de humanidade e também de consciência cristã: "Sob esse ponto de vista, a bíblia também diz que a escravidão é uma condição natural. Paulo escreveu nos evangelhos 'Escravos, sejam obedientes aos seus mestres' e, portanto, deveríamos ter votado na confederação na Guerra Civil americana. Pelo amor de Deus! A condição humana e as condições sociais mudam, mas qual o princípio fundamental do novo testamento? O de amor universal, amar o próximo!"

O que o primeiro-ministro australiano expõe vale para todo o planeta. O apego à leitura literal de um livro milenar faz parte da humanidade ainda rastejar na ignorância, ecoando a inquisição que levava à fogueira os que caminhavam no sentido do conhecimento. Mais que isso: a leitura seletiva e radical da bíblia deixa de lado, inclusive, o que ela tem de belo: a pregação do amor como algo supremo e incondicional.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Homo stupidus


Não venham dizer que se trata de tradição, religião, cultura ou os cambal. Não é aceitável uma garotinha de 8 anos ser vendida pelos pais a um homem de 40 e morrer na lua de mel. É desumano, é cruel, é criminoso! E quem permite isso é no mínimo cúmplice de assassinato.

Em pleno século 21, depois de pisarmos na lua e nos globalizarmos em teias digitais, ainda rastejamos em costumes que remetem às trevas medievais. Mulheres ainda são vendidas como mercadoria aos homens, negros ainda são tratados como serviçais de brancos, homossexuais continuam surrados moral ou fisicamente como se fossem possuídos pelo demônio.

Estamos doentes de alma! 

Vivemos um transe que, apesar da evolução do conhecimento científico, continua corroendo as sociedades mais diversas. Em nome do respeito à crença, se desrespeita a vida, por todos os cantos do mundo. O diferente é ainda visto como um inimigo a se combater, tal qual se fazia na Inquisição, e ainda se queimam pessoas de diversas formas, em nome de deuses e dogmas cruéis, preconceituosos e intolerantes.

Leis "divinas", assim como leis de mercado e tradições do passado, são usadas como justificativa para a barbárie que sufoca não apenas a espécie humana, mas todo o ecossistema tratado como um quintal a ser explorado. 

E não venham dizer que é algum tipo de cultura ou diversão espetar inocentes touros até a morte em arenas cercadas de aspirantes a psicopatas. 

A humanidade é bizarra.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Espionagem: é o pré-sal, cara pálida!


A revelação de que a espionagem do governo norte-americano atingiu a Petrobras é grave, muito grave. E aponta para uma prática que os Estados Unidos cultiva desde que o samba é samba: invadir países que lhes sejam interessantes do ponto de vista do petróleo. É assim com todo o Oriente Médio, um barril de pólvora cujo pavio é sempre aceso pela Casa Branca.

Antes do pré-sal, o Brasil era uma coisa; depois do pré-sal, é outra completamente diferente. Para se ter uma ideia, o petróleo era 7% do nosso PIB em 1997 e está partindo para 20% até 2020. Se antes discutíamos se haveria a autossuficiência, hoje discutimos para quem vamos exportar o ouro negro que move o mundo, onde vamos usar o dinheiro que virá dele e, claro, mundo também nos olha, principalmente os EUA.

Felizmente, temos um governo mais alinhado à esquerda que, ao contrário dos direitistas tucanos, não pretende entregar a Petrobras aos filhos de Tio Sam. 

Lembremos (é importante refrescar a memória diante dos fatos) que o governo FHC estava mudando o nome da estatal para Petrobrax, mais simpático à língua inglesa, e que sua grande missão era privatizar a estatal (muito provavelmente entregando-a a gigantes estrangeiras); lembremos também que denúncia recente do Wikileaks revelou que José Serra manteve contatos prometendo facilitar a exploração do pré-sal ao governo estadunidense caso fosse eleito (nenhuma novidade para políticos que sempre se alinharam ao entreguismo); lembremos, por fim, que o governo Dilma criou uma lei obrigando royalties do petróleo serem direcionados à educação (dos brasileiros!).

É hora, portanto, de fazer valer o velho jargão: o petróleo é nosso, Mr. Obama!

domingo, 8 de setembro de 2013

A coxinha azedou


O que deveria ser o maior protesto da pátria amada, salve, salve, não passou de atos isolados: algumas vidraças quebradas, uns mascarados pregando o fim do capitalismo com uma lata de Coca-Cola na mão e poucos jovens mimados que nunca fizeram nada fora da asa dos pais gritando pela volta da ditadura militar.

Sorte deles que numa democracia cabem até os temas mais bizarros, inclusive contra a própria democracia conquistada com o sangue de muitos que tinham causa, consciência e coragem sobre o ato de protestar e, por meio da ação nas ruas, construir um país mais digno para todos (e não para o próprio umbigo).

Fica ainda mais difícil de entender o que havia além de 20 centavos nos protestos de junho, quando, de repente, milhões de pessoas resolveram sair às ruas gritando contra a passagem de ônibus e mais alguma coisa que talvez nem lembrem mais, considerando que as ruas murcharam bem na data do 7 de Setembro.

Não, eu não sou contra os protestos, tanto que fui a pelo menos três dos que tomaram as ruas de São Paulo. Acho que foram um marco de um Brasil que, a despeito das melhorias sociais (atestadas pela ONU), está incomodado com os muitos problemas que há, e sabe gritar contra mazelas. 

Acontece que a carência de temática clara e as causas rarefeitas dos protestos de junho abriram espaço para os calabouços mais reacionários da sociedade se apropriarem do movimento. E deu no que deu: gente usando a liberdade de protestar para protestar contra a liberdade.

A coxinha do 7 de Setembro azedou. Sorte do Brasil que existe além dos Jardins e do Leblon.

sábado, 7 de setembro de 2013

Félix e Carminha são a própria Globo


Desta vez é a Associação Brasileira de Psiquiatria que reclama da forma como a Globo mostra a profissão no folhetim das nove, como se apenas por causa de um irmão recalcado uma pessoa fosse presa numa clínica e submetida a eletrochoque. 

Antes, foram entidades ligadas as enfermeiros a fazer críticas parecidas por causa da forma antiprofissional como a novela retrata a categoria. E qualquer entidade de classe poderia reclamar do folhetim global, assim como qualquer ser humano teria motivos de sobra para fazê-lo.

Na novela global, não existem virtudes nem ética. É só vingança, traição, planos diabólicos, ambição, ofensas, preconceitos, estereótipos. Nem a velha ideia dos dramalhões que expunham o bem versus o mal está presente, simplesmente porque quase todos fazem algo para prejudicar o outro ou pensando apenas em si mesmo.

Essa, aliás, é uma tendência na dramaturgia da vênus platinada, com protagonistas e até figurantes formados por vilões caricatos. Desde as irmãs sertanejas da Favorita, passando pela Carminha e agora a bicha má Félix, a Globo descobriu que, para retardar um pouco o ibope que cai ladeira abaixo, a fórmula é apelar para vilões caricatos em uma trama insana, onde se matam, com requintes de crueldade, os valores humanos. E tudo isso num roteiro cheio de furos, que trata o espectador como perfeito idiota.

Pode-se dizer que é apenas uma novela, mas é mais. É a própria Globo, sem nenhuma ficção. A emissora que por décadas monopolizou a comunicação no Brasil cresceu porque optou por compactuar com a repressão e a tortura, encobrindo o sangue debaixo do tapete e defendendo um governo fardado que sufocava o país. E nem gratidão pelos que lhe permitiram ascensão a família Marinho tem, pois acaba de inventar que foi "um erro" seu apoio à ditadura.

A Globo é um misto de Félix com Carminha, seres cruéis, dissimulados e enrustidos.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Preguiça, preconceito e refrigerante

Apresentação no Pelourinho: eu amo a Bahia!
Qual o limite entre a brincadeira e o preconceito? Entre o humor e o desrespeito? Entre a "pegadinha" e a violência? Difícil responder num tempo em que é preciso chocar para chamar a atenção. O pessoal do Pânico, por exemplo, sabe bem o que é isso; outro, o CQC, assimilou bem a lição -e não é à toa que de lá saíram Rafinha Bastos e Danilo Gentili, dois expoentes do stand-up-tv movido a intolerância.

Mas não são só eles. Esta semana, o Flausino, da banda Jota Quest, soltou uma pérola: "Aqui em Salvador a galera não trabalha de domingo nem fudendo", disse, durante uma apresentação. Acabou vaiado, lógico (e merecidamente). Desculpou-se depois, alegando que era brincadeira: "Eu amo isso aqui, estou sempre aqui, foi só uma brincadeira". Tarde demais.

Não, não foi só uma brincadeira, simplesmente porque quando a suposta intenção de brincar ofende, deixa de ser brincadeira e passa a ser uma coisa detestável chamada agressão. E agressão não tem graça, tampouco deve ser tolerada.

Então, em Salvador, uma cidade viva, hospitaleira e aberta ao mundo todos os dias da semana, não se trabalha aos domingos, Flausino? Também seriam preguiçosos os baianos que ergueram São Paulo e mantêm esta gigantesca metrópole dinâmica e eficiente dia e noite, graças à força nordestina?

Preguiçoso é quem não pensa antes de falar e não se esforça para se libertar da ignorância, da prepotência e do preconceito. Preguiça é fazer comercial da Fanta em vez de música.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Pimenta nos nossos olhos


O todo-poderoso jornalista do Estadão, Pimenta Neves, se achava dono da namorada e a matou com dois tiros quando ela decidiu que não queria ficar mais com ele. O crime aconteceu no ano 2000, ele confessou, mas só foi julgado seis anos depois, período que aguardou em liberdade. 

Condenado a 19 anos de prisão, pena que acabou caindo para 14 anos, Pimenta Neves conseguiu surfar nas brechas da benevolente lei brasileira aos abastados de dinheiro por mais cinco anos e só foi colocado atrás das grades em 2011, mais de uma década depois do crime que cometeu. 

Agora, dois anos e quatro meses após sua prisão, ele já foi premiado com o regime semiaberto. O motivo? Ele "já implementou o requisito temporal para a progressão de regime prisional e mantém bom comportamento carcerário, consoante atestado pela Administração Penitenciária", citando as palavras da juíza Sueli Zeraik.

Pimenta Neves tirou a vida de uma jovem apenas porque ela não mais manter um relacionamento com ele. Foi condenado a quase 20 anos de cadeia por júri popular. Mas, depois de tripudiar arrastando o cumprimento da pena, ficou pouco mais de dois anos preso em regime fechado. E já está com os dias livres, enquanto a ex-namorada está morta.

O crime compensa aos que têm dinheiro no Brasil.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Donadon, o Parlamento e o transe


A existência de um deputado presidiário que, mesmo após ter ido para atrás das grades, é absolvido pela Câmara dos Deputados tendo seu mandato garantido, revela algumas certezas sobre o que é o Parlamento brasileiro e o que ele pode vir a ser: pior.

Por mais que se diga que o Supremo Tribunal Federal não pode interferir na independência de poderes, como fez suspendendo a votação que livrou o tal deputado (e não pode mesmo), há um fato inquestionável: o Congresso está longe de representar o interesse público. Ao contrário disso, trata seus representados, os brasileiros, como verdadeiros idiotas.

É esse Parlamento que pouco servirá ao país caso não seja feita uma reforma política profunda, que impeça a prostituição ideológica e a troca de votos por dinheiro ou cargos, coisa que acontece desde que o Brasil é Brasil (e não foi inventada pelos mensaleiros, apenas continuada).

O que vem de pior o próprio caso Donadon expõe: o poder cada vez maior da bancada evangélica, que já conseguiu ganhar a presidência da Comissão de Direitos Humanos e age como uma facção que não tem limites para defender temas esdrúxulos. Donadon ajoelhou em nome de Deus e foi atendido por seus pares, em transe diabólico, na Terra. Dias piores virão sem reforma política e enquanto uma educação que forme gente crítica não for a prioridade das prioridades.

domingo, 1 de setembro de 2013

Globo cospe no prato em que comeu


As Organizações Globo estão fazendo um "mea culpa" sobre o apoio que deram ao golpe militar de 64, quando a postura dos órgãos de comunicação da família Marinho era de total incitação à tomada do poder pelos militares. Pode parecer, de um lado, um reconhecimento de culpa, mas, de outro, revela-se uma grande hipocrisia.

Foi graças aos 20 anos de ditadura que a Globo se tornou um império de comunicação. Simplesmente porque foi ela a porta-estandarte do governo dos milicos, quem torcia e distorcia as informações para manter o regime. A TV Globo era quase o canal oficial da ditadura, tanto que, até na maior passeata pelas Diretas, na Praça da Sé, a Globo noticiou como se fosse uma comemoração pelo aniversário de São Paulo, encobrindo o fato.

Dizer agora que foi um erro apoiar o golpe é uma tentativa de sobreviver a um tempo de novas mídias, em que a comunicação de uma só via é praticamente impossível diante das novas teias de conexão digital descentralizada. Mas também é cuspir no prato em que comeu e que serviu para engordar as contas bancárias dos Marinho, gerando um dos mais nefastos monopólios de comunicação do mundo.

Devolve o Nobel, Obama!


Os EUA se acham no direito de bombardear o país que quiserem amparados nos mais esdrúxulos motivos. O Iraque, porque "tinha" armas químicas, a grande mentira para justificar a cega vingança de George W. Bush contra seu ex-parceiro Saddam Hussein; agora, é a Síria, e usam-se argumentos bem parecidos. Curiosamente, ambos os países são estratégicos na geopolítica do petróleo.

Sai o odioso senhor da guerra Bush, entra o democrata e baluarte da paz mundial Barack Obama, mas permanece o império norte-americano sempre disposto a dominar o planeta conforme os interesses de seu próprio umbigo.

A ironia maior é que foram os EUA o único país a usar uma bomba atômica contra uma população, dizimando todo tipo de vida em Hiroshima e Nagazaki, num dos capítulos mais nefastos da história, mas que passa despercebido pelos que a contam - os vitoriosos.

Se valesse a mesma regra que os EUA usam para interferir no planeta, o Japão, por exemplo, poderia se sentir no direito de jogar armas atômicas sobre Washington e Nova York. E o Iraque, de usar em território americano as armas químicas que nunca tiveram. Tudo com apoio da ONU. 

Passou da hora de redefinirmos a ideia de "nações unidas", de "paz" e ampliar os conceitos de "humanidade" e "humanismo". Senão, corremos o risco de fazer o Nobel da Paz ser distribuído no Mc Lanche Feliz.