quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A matança é "divina"



Desde que o mundo é habitado por humanos, mata-se cruelmente em nome de Deus. 

O terrorismo que aconteceu na França ceifando a vida de 12 pessoas por causa de charges retratando o profeta Maomé em uma revista não é tão diferente do que se fez, no passado, nas fogueiras da Inquisição pela Europa, nas Cruzadas rumo ao Oriente ou na caça às "bruxas de Salém" nos EUA. Também não difere muito do que se faz ainda hoje, como a matança de crianças na Faixa de Gaza, a mutilação genital de mulheres na África ou os gays enforcados em praça pública no Irã... assim como espancados pelas ruas do Brasil.

Os jornalistas franceses mortos hoje, ou Joanna D'Arc queimada viva na Idade Média, ou ainda a brasileira Fabiane Maria de Jesus espancada até a morte no Guarujá no ano passado por ser alvo de boatos de "bruxaria", são vítimas de uma mesma motivação: a crença cega em um deus para o qual tudo se dá, tudo se teme, tudo se conquista e tudo se subordina, sem nenhum senso crítico, sem nenhuma humanidade, sem nenhum amor ao próximo.

Sim, é um absurdo o fundamentalismo islâmico, da mesma forma que foi e ainda é um absurdo o fundamentalismo cristão de católicos ou protestantes, o fundamentalismo judeu, o fundamentalismo de qualquer religião ou seita, seja ela monoteísta, politeísta ou o escambau. Porque o fundamentalismo é um lixo, radical, irracional, intolerante e violento.

Em pleno século 21, depois de já termos pisado na Lua com perspectivas de chegarmos brevemente a Marte, não conseguimos sequer entender (e aceitar) os limites da ignorância que está em nossas próprias cabeças. Isso leva muitos a se escravizarem diante dos dogmas mais bizarros e estúpidos, na vã tentativa preencher o vazio de explicações sobre o mistério da vida, sobre de onde viemos ou para onde vamos. Então, na busca louca sobre o além-morte, não se vive, não se ama, não se compartilha. Só se odeia.

A espécie humana, que se arroga o direito de escravizar outras espécies, poluir o ar, levar esgoto aos mares e transformar a Terra numa estufa rumo ao caos, é tão estúpida que ainda não entendeu que jamais haverá um mundo em que todos pensam igual, agem igual, tem gostos iguais, preferências iguais, escolhas iguais. E que é nessas naturezas diferentes que está a magia da sobrevivência, além de ensinamentos sobre a grandeza da existência.

O atentado de hoje só comprova que, a despeito de tantas velas acesas a divindades, ainda rastejamos na escuridão e carecemos de responsabilidade para encarar a vida terrena, que não é fácil nem mágica, mas é concreta e de direito inviolável a cada um que nasceu e nascerá. E, acima de tudo, pode ser bela, se tivermos coragem de fazê-la assim.

É um absurdo supor que se possa chegar a qualquer compreensão de deus ou de um criador sem praticar a humanidade que há dentro de cada um de nós.

(imagem sxc)

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