Em um desses programas
televisivos de auditório que buscam ibope a qualquer custo, o ator Alexandre
Frota descreve, em detalhes e aos risos, como estuprou uma mulher. O
apresentador do programa, o humorista Rafinha Bastos, se diverte e também ri a
cada novo detalhe revelado, completando o circo de horrores que se concretiza
em um veículo de comunicação que é, antes de tudo, concessão pública, com dever
constitucional de exibir material educativo.
Horas depois, pelas mídias sociais
(a nova arena da comunicação de massa), chovem críticas ao episódio. Diante
delas, o apresentador responde tentando se esquivar, e diz que se tratava de
uma brincadeira. Resolveu o problema? Sendo verídico ou uma brincadeira, seria
a descrição de um estupro, que é crime hediondo, algo a ser levado a público
como exemplo de humor? Seria engraçado? Seria ético? Seria aceitável? Seria
humano?
O episódio, que ocorreu recentemente na TV Bandeirantes, é apenas mais um exemplo do machismo que há muito tempo está impregnado em nossa sociedade, responsável por uma estatística assustadora: a cada dez minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Frota ficou por 24 minutos falando com Rafinha em horário nobre. Então, estatisticamente, enquanto ambos faziam apologia do estupro e falavam sobre outros temas “engraçados”, duas mulheres eram violentadas pelas ruas do país, sem graça nenhuma.
A questão é séria e não é pontual. Não se trata de um caso isolado em uma mídia que não tem limites diante da violência que despeja em nossas salas e diante de uma sociedade que pouco reage a ela. No ano passado, no Big Brother Brasil, da Globo, uma das participantes foi abusada sexualmente com a conivência da emissora, da Justiça, dos espectadores e, portanto, da sociedade como um todo. Ninguém reagiu à altura, portanto ninguém foi responsabilizado.
A consequência disso tudo é uma realidade hostil às mulheres. Uma pesquisa feita recentemente pelo instituto Data Popular aponta que 30% dos jovens brasileiros do sexo masculino consideram que mulheres que usam roupas curtas estão “se oferecendo”, ou seja, um passaporte para aceitar o estupro. O jornal britânico “Daily Mail” publicou recentemente uma reportagem dizendo que o Brasil é o segundo pior país para uma mulher viajar sozinha.
Diante de tal realidade, vamos comemorar o Dia Internacional da Mulher apenas entregando rosas vermelhas? Ou vamos nos empoderar da responsabilidade de fazer um país (e um mundo!) onde homens e mulheres compartilham da mesma dignidade?
Além das flores que certamente
embelezarão o próximo domingo, podemos ajudar a semear, em corações e mentes,
um futuro melhor.
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