sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O gay morto e a praga a se combater



João Antonio Donati tinha apenas 18 anos. Foi assassinado cruelmente em Goiás, encontrado cheio de hematomas e com sacolas plásticas enfiadas em sua garganta, além de um bilhete revelando a motivação para o crime: "Vamos acabar com essa praga".

A "praga", no caso, ao que tudo indica, é a orientação sexual do garoto -e de 10% da humanidade. Ele era gay e seu azar foi nascer entre pessoas ainda incapazes de entender a característica que manteve nossa espécie viva desde que surgimos na Terra: a diversidade (porque se fôssemos todos iguais, se tivéssemos genes e características iguais já teríamos sido dizimados por um vírus, uma bactéria ou qualquer intempérie; e se tudo no mundo fosse igual sequer haveria mundo).

João Donati não era um diferente entre os "normais", porque simplesmente não há "normais". Todos somos diferentes, temos todos nossa própria natureza e deveríamos todos saber que até podemos não gostar das características dos outros, mas jamais nos é de direito agredir verbal ou fisicamente aquele ou aquela que nos incomoda, porque isso nos reduz ao patamar dos monstros, dos indigentes, das feras irracionais que sequer merecem habitar um mundo tão diverso.

Os algozes de João Donati e de tantos gays como ele, humilhados, espancados, torturados e mortos, estão impunes e ficarão impunes. Estão nos líderes de templos que se autointitulam "casas de Deus", pregando um criador pautado no ódio e na segregação; na hipocrisia dos que conclamam os anjos com práticas das trevas; estão nos burocratas que reproduzem conceitos medievais de família e valores; na educação que se nega a educar para a diferença; na mídia covarde que reforça estereótipos e se vende ao comercial; nos pais e mães que renegam os próprios filhos.

Há, sim, uma praga a ser combatida, mas ela não está entre garotos como João Donati. Ela está entre os que parecem os mais certinhos e capazes de jugar e condenar os "não-certinhos". Essa praga se traveste de "amor ao próximo" para arrancar o dinheiro e a própria humanidade dos humanos, ensinando-os a se agrupar entre fanáticos que odeiam todos os que não são fanáticos como eles.

A praga a ser combatida é o transe que ainda vivemos, em pleno século 21, e que nos torna incapazes de enxergar a nós mesmos. 

Sócrates, 300 anos antes de Cristo, convidou a humanidade a um desafio que ela ainda não conseguiu realizar: conhecer a si mesma, aceitar sua natureza e, por consequência, respeitar a si e ao outro. Ele foi condenado a beber cicuta e morrer, por "corromper a juventude". 

Hoje, a sociedade dita "contemporânea" e cheia de direitos individuais, continua a condenar muitos dos que se encorajam a conhecer a si mesmos, se aceitar e se assumir diferentes das regras moralistas dos monstros aclamados como profetas.

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