Os filósofos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer trouxeram à luz, nos anos 1940, uma das teorias mais importantes para entendermos a transformação da cultura em mercadoria no mundo capitalista. Segundo os pensadores da Escola de Frankfurt, a produção cultural, seja ela erudita ou popular, acaba encarcerada em modelos comerciais que desvirtuam aspectos reflexivos e críticos das criações, transformando tudo numa indústria que chamaram de "indústria cultural".
O pensamento de Adorno e Horkheimer focou, por exemplo, a arte cooptada para enaltecer o nazismo na Alemanha de Hitler e o entretenimento do cinema norte-americano que desviava a atenção dos problemas sociais dos anos 30 (e sempre serviu e serve ao imperialismo bélico estadunidense). Mas tal teoria, também chamada de Teoria Crítica da Comunicação, é totalmente pertinente nos dias atuais. E vemos isso todos os dias em um mundo que transforma quase tudo em mercadoria, desviando valores para preços.
Um exemplo gritante, para não dizer bizarro, que se viu esta semana, pode ser representado numa banana, a fruta tropical rica em potássio que, semioticamente, virou um tipo de "símbolo" de luta contra o racismo por causa da atitude execrável de um torcedor ao jogá-la em Daniel Alves, na Espanha. Pelas mídias sociais, o novo palco da comunicação de massa, celebridades e não-celebridades passaram a postar fotos suas ao lado de bananas, comendo bananas, segurando bananas e até fazendo da banana um artefato artístico para a qual passou a convergir uma causa muito mais nobre: a igualdade entre os seres humanos. Até que Luciano Huck resolveu faturar: criou camisetas de sua marca estampadas com bananas e a mensagem "somos todos macacos".
Huck colocou uma etiqueta de preço na luta contra o racismo: R$ 69 cada camiseta. E todo o dinheiro oriundo das vendas será revertido para o enriquecimento do já abastado apresentador-merchan, um dos mais bem pagos animadores de auditório da TV (fatura salário batendo em 1 milhão de reais), que, além de estrela global, é de dono de vários outros negócios pelo país, sem contar os muitos comerciais que protagoniza para vender de refrigerantes a celulares.
Voltando à Escola de Frankfurt, o que Huck fez foi nada menos que se apropriar de uma causa coletiva, mundial, histórica para faturar dinheiro, reduzindo o desafio de quebrar a muralha erguida contra os negros a um souvenir cuja marca leva seu nome e engrandece apenas o seu ego (e seu bolso).
Dono de uma casa em Angra dos Reis que fere as leis ambientais (em torno da qual cercou o mar fazendo da faixa costeira sua propriedade particular), pego dirigindo embriagado numa blitz da lei seca no Rio (na qual se negou a fazer o teste do bafômetro, com a manjada alegação de que "tomou apenas umas taças de vinho") e explorador da tragédia alheia no circo pseudo-assistencialista de seu programa em busca de ibope, Huck está longe de ser um exemplo de luta por igualdade. A banana de sua camiseta, portanto, não passa de um exemplo bizarro de indústria cultural, um deboche a todos os negros e todos os brasileiros.