Deu no New York Times que as mudanças climáticas atingirão a todos, indiscriminadamente. Pobres primeiro, claro, depois os ricos e depois até os milionários. Evidente, afinal estamos todos no mesmo barco, mesmo que haja divisões entre quinta, quarta, terceira, segunda e primeira classes. E a rota já chegou num ponto em que não há mais volta: caminhamos rumo a, se não um abismo, um mar tempestuoso de clima hostil.
Diz o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, da ONU, que "As calotas polares estão derretendo, o gelo marinho no Ártico está em colapso, o abastecimento de água está sobrecarregado, ondas de calor e chuvas fortes estão se intensificando, os recifes de corais estão morrendo e os peixes e muitas outras criaturas estão migrando para os polos ou sendo extintos".
Novidade? Não!
O Protocolo de Quioto, de 1997, já alertava para tudo isso. Aliás, antes de Quioto, teve a Conference on the Changing Atmosphere, no Canadá, em outubro de 1988, seguida pelo IPCC's First Assessment Report em Sundsvall, Suécia, em agosto de 1990, que culminou na ECO-92, no Rio de Janeiro, em junho de 1992. Ou seja, já faz umas três décadas que sabemos onde vai parar essa máquina humana de gerar carbono.
O que estamos fazendo, de fato, para evitar isso? Pouca coisa. Ou quase nada.
Os maiores poluentes e geradores de lixo do mundo, os EUA, desdenharam o Protocolo de Quioto e continuam acreditando num modelo de sociedade consumista, individualista, obesa e, portanto, nada sustentável. A China mantém usinas a carvão com cidades cobertas de poluição para manter sua produção capaz de dominar o planeta no mercado de tudo. A Europa está preocupada em, antes de qualquer coisa, sair da crise econômica e gerar empregos, seja na área que for. No Japão, Fukushima continua vazando material radioativo. O Brasil, celeiro da humanidade, comemora seus poços de petróleo, o combustível mais poluente mas que ainda move o mundo. E todos fazem do mar, nosso verdadeiro pulmão graças às algas, um esgoto.
É a economia, cara pálida! Dane-se o planeta! Karl Marx, que nasceu em 1818, já dizia isso: a economia molda as sociedades.
Por falar em sociedades e seus costumes, nisso também tudo continua muito longe de uma convivência sustentável. As ruas estão abarrotadas de carros com uma só pessoa dentro de cada um; o desperdício de alimentos está batendo nas alturas até em países que têm fome, como o Brasil (um dos campeões de desperdício alimentar, aliás); há no mundo todo um consumo absurdo de carnes que demanda enormes devastações de florestas para pastagem e plantio de vegetais necessários para alimentar rebanhos (vegetais que seriam muito mais eficientes se fossem diretamente para a mesa de humanos, sem contar a quantidade enorme de água necessária para alimentar esses bichos); filhos são feitos quase por capricho em um mundo superpovoado, enquanto tantas crianças abandonadas mofam em orfanatos e nas sarjetas.
Somos, pessoal e profissionalmente, incompetentes para administrar a Terra, até porque o primeiro grande erro (disseminado por religiões) foi achar que tudo isso foi feito para nós. Não conseguimos, ainda, enxergar que nossa condição é de apenas uma espécie entre milhares, e que deveríamos ter aprendido a conviver, não dominar.
As mudanças climáticas chegarão, é óbvio. Aliás, já chegaram. Mas continuaremos agindo de forma cínica, vivendo da economia e do individualismo. A publicidade e o marketing cuidarão da transformação de produtos poluentes em anjinhos ecológicos e o jornalismo continuará perdidamente cego para a questão. Só mudaremos de postura quando a água bater na nossa bunda, quando o mar invadir o metrô de Nova York, quando o Tâmisa invadir o Palácio de Buckingham e quando as indústrias da China perceberem que não conseguem produzir um drive capaz de fazer o backup do planeta.
É ação e reação. A Terra está respondendo a tudo o que fizemos com ela.
(foto: cena do filme "O dia depois de amanhã")
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