terça-feira, 5 de novembro de 2013

O rei do camarote e a guilhotina


Parecia que a Veja já tinha feito tudo de mais surreal, mas eis que surge o "rei do camarote" na capa da Vejinha São Paulo e um vídeo estrelado por ele no site da revista, uma das coisas mais bizarras de se assistir (clique aqui para ver). 

Alexander de Almeida, o herói da revista que se diz importante, é um empresário "dono dos dez mandamentos" para reinar na noite: beber champanhe (mesmo preferindo vodca), dirigir sua Ferrari embriagado, vestir roupas das grifes mais caras para "ganhar" mulheres interessadas em seu dinheiro, tietar celebridades para agregar valor ao seu camarote, levar seguranças à tiracolo para assegurar sua integridade física, torrar 50 mil reais em uma noite brincando com a maquininha de cartão de crédito como se fosse um telefone e pagar mico diante de todo um país.

É um paradoxo, mas o dinheiro tem o poder de comprar uma das coisas mais sem valor do planeta: a futilidade. Pior é quando essa mistura de riqueza material com pobreza de espírito vira pauta e ganha a capa de uma publicação que faz do fútil um exemplo a ser propagado por todo um país. Pior ainda é o fato de este país ter o desafio histórico de vencer a desigualdade social (e sua mais importante conquista têm sido justamente a redução da miséria) e estarmos em um mundo que implora por sustentabilidade.

O "rei do camarote" é um alienado que imagina ter o planeta girando em torno do seu umbigo, certo de que dentro da sua Ferrari ou na embriaguez de sua champanhe servida com fogos na balada não há as leis dos pobres mortais, e que seu cartão de crédito é capaz de torná-lo a pessoa mais interessante do universo, amado pelas lindas e lindos que o rodeiam. Seu comportamento é idêntico ao de boa parte da elite paulistana, em especial, e da brasileira, em geral. A diferença é que ele concordou em expor tudo isso, enquanto outros apenas praticam, sem contar.

Pior que Alexander, o grande babaca endinheirado, é quem lhe dá holofotes posando de veículo "formador de opinião" e "indispensável" para o país. Bem pior que sua estupidez é transformá-la em modelo a ser seguido ou admirado, é imaginar que sua vidinha miseravelmente rica seja parâmetro para alguma coisa que não seja repulsa. Para a Veja, Alexander é o rei, enquanto nós somos súditos. Com tal publicação, a revista está dizendo que a ode ao material, o egoísmo e o desprezo ao humano são um projeto de vida, sinônimo de sucesso e felicidade.

Ao coroar Alexander, Veja cospe no Brasil e no ser humano, dizendo algo como a frase atribuída a Maria Antonieta: "Se o povo não tem pão, que coma brioches". O lado bom disso tudo é que, tal qual a monarquia foi guilhotinada pela Revolução Francesa, a velha mídia está sendo varrida pela revolução digital. Prova disso é que, em apenas dois dias, uma das muitas páginas criadas na internet para debochar do "rei do camarote" (clique aqui parar ver) conseguiu 100 mil seguidores (um terço da tiragem que Vejinha conquistou em décadas) e a repulsa à pauta nas discussões pela web supera em muito a própria credibilidade de Veja.

Lembrando uma frase de Victor Hugo em "Os Miseráveis", "A pobreza e o luxo são dois conselheiros fatais, um ralha, o outro lisonjeia". O ralhar contra Alexander e a Veja pelas mídias sociais são a queda da Bastilha na comunicação brasileira e mundial.

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