terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

É fácil ser idiota


É fácil acender um rojão no meio de uma multidão, apontar para alguém, sem mais nem por que, e gritar palavras de ordem por um Brasil "melhor". Difícil é ser gente, ter atitude de gente, respeitar outros tipos de gente e ser o exemplo da mudança que quer.

É fácil ficar reclamando, em reuniões de botequim, que a corrupção está à beira da morte, mas quando termina o papo, após vários copos de cerveja, sair dirigindo, infringindo a lei, cometendo crime e colocando vidas em risco. Difícil é ter responsabilidade. 

É fácil amarrar trombadinha em poste e defender o linchamento como meio de construir uma sociedade menos violenta, e depois correr atrás do mesmo tipo de trombadinha para comprar erva para um "beck" ou pó para uma carreira antes de ir pra balada, beber e novamente dirigir. Difícil é entender que as ações de todos têm reações que afetam todos.

É fácil esbravejar contra todos os impostos ou transferências de renda, dizer que bom mesmo é ensinar a pescar e sonegar, explorando funcionários e negando-lhes direitos. Difícil é produzir com ética, lucro justo, distribuindo ganhos em vez de querer tudo para si, gerando abismos sociais.

É fácil dizer que todos políticos são corruptos, que não dá para acreditar em ninguém e roubar vaga de deficiente no estacionamento do shopping. Difícil é se responsabilizar pelo próprio voto e exercer a participação que a democracia exige para que aconteça, de fato. 

É fácil gritar que "não vai ter Copa" e socar o amigo nas discussões fanáticas por causa de futebol. Difícil é entender que seria até possível evitar a Copa, se o grito fosse feito quando o país se candidatou a receber o evento (e ninguém deu um pio). 

É fácil quebrar vitrine, praça pública e tombar carros pelas ruas, dizendo que o Brasil precisa melhorar. Difícil é melhorar os próprios atos para que o país como um todo melhore.

É fácil protestar na democracia posando de herói, clamando inclusive pela volta da ditadura como um bebê chorão. Difícil é mostrar o rosto, ter dignidade e ser capaz de andar com as próprias pernas sem precisar agredir ninguém.

É fácil ser black bloc e se achar o máximo sendo um idiota. Difícil é ter a coragem e a causa de um Vladimir Herzog, a inteligência e a ousadia de Chico Buarque, a fé transformadora de um Paulo Evaristo Arns, a consciência planetária de um Chico Mendes (e tantos outros que não tiraram a vida de ninguém por um Brasil melhor, mas colocaram a própria vida em risco por uma causa nobre e coletiva...).

(imagem Fernando Frazão/ABr)

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