Mais um pai (se é que esta palavra pode ser atribuída a um monstro) espanca e mata o filho para fazê-lo "virar macho". Desta vez, a vítima foi o pequeno e franzino Alex, de apenas 8 anos, que teve o fígado dilacerado por socos "corretivos" do pai machão, no Rio. O motivo? O filho gostava de lavar louça, de dança do ventre e não queria cortar o cabelo. "Coisas de viadinho", para seu algoz. (clique aqui para ler mais)
Não é o primeiro caso, nem será o último em um tempo paradoxal, que mistura liberdades conquistadas com ranços medievais patrocinados pelos neorreacionários que estão nos templos religiosos, na velha mídia que apela a tudo de mais bizarro para sobreviver e dentro das famílias. São muitos os pais machistas que agridem física ou moralmente seus filhos para que virem "machos", e quase sempre isso é acobertado pelas mães.
Em pleno século 21, o machismo ainda é um câncer a ser extirpado do mundo. E isso não acontecerá enquanto a maior vítima dele (a mulher) não se empoderar do combate que lhe cabe, em todos os sentidos. A madrasta de Alex disse à política que o menino desmaiou "de repente", ou seja, ela prestou-se ao papel de cúmplice de um crime bárbaro. Outras tantas mulheres fazem o mesmo e também ensinam seus enteados ou filhos que o certo é ser garanhão e pegador, enquanto às filhas cabe o papel do recato e a obrigação de arrumar a cama do irmãozinho.
Alex era uma criança evoluída, à frente do seu tempo, e pagou com a vida por não seguir ridículos padrões impostos. Ele gostava de cuidar da casa e estava certo, pois isso não é obrigação só de mulher, mas de todos; conseguia enxergar a alegria da dança, independente de gêneros, não importa se balançando ventres ou dando pulinhos ao som do forró (que ele também gostava); não tinha padrões para corte de cabelo, afinal cada um faz o que quiser com o seu; e era afetuoso, algo tão raro em um mundo individual.
Antes de tudo, entretanto, Alex era uma criança, que deveria ser protegida e amada por seus pais e pela sociedade, entendida em suas manifestações diante da vida e conduzida a uma fase adulta de responsabilidades e liberdade. Em vez disso, foi surrado como um indigno de viver, sofrendo até a morte as dores de um moralismo doentio.
A horrenda morte desse garoto escancara o despreparo da paternidade diante da enorme responsabilidade de gerar uma vida e de educar um ser. Filhos não são propriedades de seus pais e mães e estes não têm o direito de lhes moldar conforme seus rígidos (e cegos) padrões. Simplesmente porque são novas vidas e encarnam a esperança de novos olhares para a solução de velhos problemas.
Quem não está preparado para o novo e para o outro, em todos os sentidos, não deveria fazer filho. O mundo já tem gente demais e recursos naturais de menos! Já quem deseja gerar uma vida e ajudar a construir um novo ser humano, deveria entender que a questão não é brincar de boneca ou de carrinho, lavar ou não a louça, gostar de dançar com o ventre ou com as pernas, ter cabelos longos ou curtos. A questão é ser gente, respeitar gente e ter o direito à felicidade.
Um bebê nasce puro, sem preconceitos, livre, sem dar a mínima para o que é de macho ou de "viadinho". Um ser humano, desde criança, já é dotado da sua natureza, da combinação de genes que definem preferências, gostos e razões. É sua essência - e o mínimo que pais e mães de verdade devem fazer é RESPEITAR!
O mundo precisa de mais crianças como Alex, responsáveis com a casa, afetuosas com o próximo, alegres e capazes de ser diferentes (porque o igual é tão banal). Se você tem um Alex em casa, abrace-o forte, proteja-o e sinta-se feliz por esse privilégio.
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