terça-feira, 4 de março de 2014

O Carnaval é maior que a TV



A audiência da Globo na transmissão do Carnaval do Rio este ano é das piores da história e isso não é novidade. A programação da TV despenca como um todo diante do público, numa era em que ela não tem como disputar com as novas mídias, muito mais interativas. 

Mas, não é só isso.

Este ano, além de ter ido ao sambódromo, eu fiz um teste interessante aqui em casa. Baixei o volume da TV e assisti por um tempo, depois ergui novamente. Percebi que, exceto pelo samba-enredo, é mais agradável ver sem ouvir as obviedades e baboseiras que se falam por jornalistas e "especialistas" no assunto. Um exemplo: quando caía granizo, no primeiro dia do desfile em São Paulo, chegou-se a dizer que a chuva "não atrapalhava". Claro que não, para os comentaristas que viam tudo de um confortável estúdio, sambando diante do vidro que os separava da vida lá fora.

Mas há uma questão cronológica do Carnaval que a TV não consegue captar. As escolas têm um começo, um meio e um fim na sua passagem, todos repletos de uma magia que só se sente quando está presente. Para quem vê no sambódromo, isso é muito claro: as imagens e o som evoluem, a abertura e as primeiras alas vão levando ao clímax da passagem da bateria, e depois vêm novas alas que preparam para o fechamento em grande estilo. A TV atropela esse "ritual", tornando tudo repetitivo, chato e repleto de "análises" que beiram a surrealidade.

Faz tempo que a Globo enquadrou o Carnaval do Rio e de São Paulo em sua telinha. Monopolizou a festa como um produto seu, obrigando as ligas de escolas de samba a seguir o horário de sua grade, desde os desfiles até a apuração. Isso funcionou para a emissora em tempos analógicos e enquanto a grande maioria dos brasileiros tinha um poder aquisitivo tão baixo que os tornava reféns da TV. Mas, a realidade mudou, tanto nas novas conexões quanto novas possibilidades.

A magia carnavalesca não cabe num tubo de TV, tampouco nos interesses de uma empresa como a Globo, historicamente avessa ao diálogo e amiga da ditadura. Essa magia brota do povo, tem som de povo, cheiro de povo e alegria de povo. É democrática e inclusiva, tornando os "súditos" da vida real reis e rainhas da passarela.

Se vale uma dica, no próximo ano, desligue a TV e corra pro sambódromo. Você poderá, como eu, sentir um arrepio gostoso de ser brasileiro.

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