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Enquanto o samba de uma nota só chamado "mensalão" monopoliza as manchetes da velha mídia e todos os textos de colunistas-ventríloquos-dos-seus-patrões-especuladores (há oito anos esse dramalhão não sai da tela), o Brasil dá dois passos no sentido da Idade Média, protagonizados pelo fundamentalista Marco Feliciano, que ocupa a presidência da Comissão de Direitos Humanos.
Feliciano, mais uma vez, conseguiu agir na calada da noite (ou, melhor dizendo, aproveitando-se das sombras de um noticiário viciado e cego).
Além de fazer passar na sua comissão a ideia de um plebiscito para discutir a união de pessoas do mesmo sexo, também avançou no sentido de anular decisão do Conselho Nacional de Justiça, que determinou aos cartórios de todo o país a obediência à decisão do Supremo Tribunal Federal liberando uniões gays.
Feliciano quer, na verdade, implodir o direito dos gays de se unirem aos seus pares. Quer passar por cima de uma conquista histórica e, pior, usando a opinião pública como refém e cúmplice da sua doentia e estranha obsessão pelo tema.
Fazer um plebiscito para discutir a destruição de direitos de uma minoria, que não ferem em nada os da maioria é, no mínimo, uma tremenda sacanagem. Isso porque o casamento gay não substitui o casamento entre homem e mulher, não havendo nenhuma relação de prejuízo entre um e outro tipo de matrimônio. A recente conquista (graças ao STF, pois a maioria dos deputados é covarde diante dessa pauta) apenas estendeu aos gays um direito que os héteros sempre tiveram e continuam tendo -e isso no âmbito das leis, não nos templos religiosos, que continuam com total liberdade para impor suas regras homofóbicas aos seus fieis.
Feliciano quer, na verdade, botar fogo no paiol. Ele quer criar uma guerra "santa" por meio de um "você decide" que custaria muito aos cofres públicos, gerando um debate dogmático e medieval. Sua intenção é rasgar o Estado de direito e trocá-lo pelo transe, tal qual se fazia nos idos da inquisição, agregando dízimos à sua imagem de representante-Mor da moral e dos bons costumes.
Se o plebiscito vingar (lembremos que Marina Silva já deixou escapar a mesma ideia absurda), Estado e igreja voltarão a se misturar em praças públicas, com fogueiras acesas para queimarem os não-obedientes ao dogma.
Logo, Feliciano também poderá propor que se discuta se as mulheres devem continuar votando, já que está na Bíblia que elas precisam ser submissas aos homens. Ou se não deveriam usar burca como vestimenta obrigatória.
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