Ontem assisti ao "Profissão Repórter". O tema me chamou a atenção: ocupações de edifícios abandonados em São Paulo, retrato escancarado da desigualdade urbana, da especulação imobiliária e do esbanjo dos quem têm muito versus a falta de um teto aos que têm quase nada.
Os jovens repórteres buscavam fazer jus ao slogan do programa ("o desafio da reportagem") e eis que Caco Barcellos, um jornalista de história memorável, dá o tom bem ao estilo Ali Kamel, tipicamente global.
O jovem repórter argumenta: "Eles não gostam de ser chamados de invasores, porque invasão remete à violência". Mas Caco rebate: "Eles podem se chamar do que quiserem, mas a gente vai chamá-los do que nós quisermos!".
Ah, claro! Falou o editor, o dono das interpretações e dos fatos!
Com tal postura, Caco ensina aos jovens jornalistas o suprassumo do manual da velha mídia: independente das fontes e dos fatos, o que importa é o que o veículo em questão (no caso, a Globo) acha e impõe como verdade, e não há espaço para reflexão do espectador. É a comunicação em via de mão única, tão arrogante quanto decadente.
O que Caco (ou, a Globo) impediu era justamente a melhor questão a se fazer sobre a pauta: trata-se de uma situação em que há mocinhos de um lado e bandidos de outro (invasores cruéis versus proprietários coitadinhos)? Ou o fato de haver inúmeros prédios vazios e caindo aos pedaços (pertencentes a quem tem outros inúmeros imóveis) numa cidade onde muita gente vive embaixo de pontes é a maior das violências?
A resposta para isso deveria ser do espectador. Não do Ali Kamel, nem do seu fiel escudeiro Caco Barcellos, tampouco da Globo e sua gigantesca sonegação de impostos, que invade qualquer esperança de justiça social.
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