sábado, 13 de julho de 2013

Modernidade líquida, mídia medieval

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman chama de “modernidade líquida” o tempo em que vivemos, de permanentes incertezas e mudanças. “Líquidos mudam de forma muito rapidamente, sob a menor pressão”, ele diz, e daí podemos relacionar sua tese a um mundo de relacionamentos instáveis, celebridades instantâneas, paranoia por um ideal de beleza inexistente, consumismo, esfacelamento da política como meio de se viver em sociedade e sua substituição pelo individualismo.

Qualquer semelhança com o momento atual do Brasil não é mera coincidência. Junho de 2013 poderia ser um perfeito “case” para Bauman: ruas repletas de pessoas que “acordaram” de repente mas sem saber ao certo para que, com tantas pautas a gritar quando incertezas sobre elas e um apartidarismo fincado no próprio umbigo de cada manifestante. Um tsunami a inundar as cidades, tão potente quanto efêmero –e ainda muito difícil de entender.

Lembrei Bauman no meu passeio pela velha mídia, hoje cedo. Em páginas e páginas de informações, em cada manchete, havia ali uma certeza cravada, uma sentença proferida, quase uma ordem imposta contra a qual não pode haver argumentos. E um interesse único, como um coro partidário travestido de noticioso. A pauta é praticamente a mesma em todos, assim como a forma de se enxergarem os fatos. Um desperdício de trabalho e matéria-prima, que poderiam ser canalizados para a tão necessária construção de entendimentos coletivos em vez do velho samba de uma nota só.

A velha mídia não entende de Bauman e talvez por isso os jovens líquidos não entendam a velha mídia, preferindo a opinião dos amigos do Facebook, mesmo que tosca, às colunas dos “especialistas” de veículos centenários. O mundo dos jornalões é um mundo sólido, tão duro quanto o concreto, inacessível para a interação, antidialético, monocromático e tão velho quanto um dogma, contra o qual não há argumentos: ou se acredita, ou está excomungado, renegado ao fogo dos muitos infernos criados para ameaçar os fiéis. 

Em plena era da comunicação, quem se incumbiu da tarefa de informar durante décadas e construiu impérios impressos, radiofônicos e televisivos hoje está incomunicável, fechado em si mesmo, falando para o espelho e ainda se achando dono da verdade. O laser verde na cara do Tramontina, ao vivo na Globo, é apenas um lampejo desses novos tempos: o império midiático se fecha numa bolha de vidro, mas a multidão lá fora já descobriu como atravessar a redoma.

O que será do Brasil de amanhã ninguém sabe. As previsões são tão líquidas e efervescentes que quase chegam a se tornar gasosas. E é mais provável que a velha mídia se dilua no esgoto do que acerte as previsões ditatoriais de suas manchetes cheias de maus interesses.

Os Marinho, os Frias, os Mesquita e os Civita deveriam ler Bauman.

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