sábado, 7 de setembro de 2013

Félix e Carminha são a própria Globo


Desta vez é a Associação Brasileira de Psiquiatria que reclama da forma como a Globo mostra a profissão no folhetim das nove, como se apenas por causa de um irmão recalcado uma pessoa fosse presa numa clínica e submetida a eletrochoque. 

Antes, foram entidades ligadas as enfermeiros a fazer críticas parecidas por causa da forma antiprofissional como a novela retrata a categoria. E qualquer entidade de classe poderia reclamar do folhetim global, assim como qualquer ser humano teria motivos de sobra para fazê-lo.

Na novela global, não existem virtudes nem ética. É só vingança, traição, planos diabólicos, ambição, ofensas, preconceitos, estereótipos. Nem a velha ideia dos dramalhões que expunham o bem versus o mal está presente, simplesmente porque quase todos fazem algo para prejudicar o outro ou pensando apenas em si mesmo.

Essa, aliás, é uma tendência na dramaturgia da vênus platinada, com protagonistas e até figurantes formados por vilões caricatos. Desde as irmãs sertanejas da Favorita, passando pela Carminha e agora a bicha má Félix, a Globo descobriu que, para retardar um pouco o ibope que cai ladeira abaixo, a fórmula é apelar para vilões caricatos em uma trama insana, onde se matam, com requintes de crueldade, os valores humanos. E tudo isso num roteiro cheio de furos, que trata o espectador como perfeito idiota.

Pode-se dizer que é apenas uma novela, mas é mais. É a própria Globo, sem nenhuma ficção. A emissora que por décadas monopolizou a comunicação no Brasil cresceu porque optou por compactuar com a repressão e a tortura, encobrindo o sangue debaixo do tapete e defendendo um governo fardado que sufocava o país. E nem gratidão pelos que lhe permitiram ascensão a família Marinho tem, pois acaba de inventar que foi "um erro" seu apoio à ditadura.

A Globo é um misto de Félix com Carminha, seres cruéis, dissimulados e enrustidos.

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