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"Quando uma cidade faz um grande sucesso, produz uma atmosfera de confiança. Muitos investimentos estavam parados há décadas. O dinheiro está entrando em Londres de uma forma que a gente não via há muito tempo", ele conta.
Essa matemática vale para muitos grandes acontecimentos, principalmente os de escala global, que colocam as cidades que os sediam no mapa múndi da economia, do turismo, da cultura, além do próprio esporte. Em São Paulo, onde acontece um evento a cada seis minutos, a Parada Gay, por exemplo, traz R$ 200 milhões para a cidade em apenas uma semana e a Fórmula 1, R$ 250 milhões.
Outro exemplo, em pequena escala mas não menos exemplar, acontece nas próprias empresas. O setor de marketing de organizações de ponta, hoje, no mundo todo, investem pesado em eventos para poder atrair novos clientes e fidelizar os parceiros. Isso porque trazê-los para perto em ocasiões especiais gera muito mais resultado, portanto compensam os gastos, pois multiplicam os ganhos.
O Brasil vai sediar uma Copa e uma Olimpíada e, claro, quando se envolve Estado, há sempre o perigo de o dinheiro público levar a iniciativa privada nas costas, e esta lucrar quase sozinha. Mas a gritaria cega contra esses eventos é, em boa parte, retrato de um complexo de inferioridade, a chamada síndrome de vira-lata que reflete a total carência de autoestima brasileira.
A grande crítica é quanto aos gastos com estádios, mas não se observa que o dinheiro público que existe ali é via BNDES, ou seja, em empréstimos, que, por sinal, são feitos também para empresas privadas de vários segmentos. Um exemplo recente? A Volkswagen recebeu, em 2012, uma linha de financiamento de R$ 343 milhões do mesmo BNDES para construir no Brasil a linha de produção do Up, o chamado "Fusca do século 21", que será lançado em breve. A estratégia foi trazer produção para cá (pois senão iria para outro país), gerando emprego e renda. Outra ação do governo facilitando a construção de estádios é em relação à desoneração de impostos, mas isso também já acontece, em prefeituras e estados, para facilitar a instalação de empresas (também visando emprego e renda) -e ninguém sai para a rua gritar contra.
É óbvio que quando se compara um estádio padrão Fifa com um hospital público, a revolta é quase inevitável. Mas o fato é que a melhoria da saúde e da educação não tem a ver com a Copa nem com as Olimpíadas. Tem a ver com séculos em que imperou por aqui a cultura da desigualdade. Exemplos: dinheiro público jorrando nos bairros de ricos (em asfalto, luz, esgoto, segurança, praças, parques, bosques etc etc etc) enquanto as periferias são insalubres; o abismo entre o que se investe na educação "superior" e o que se deixa de investir na básica, fazendo das faculdades públicas ilhas de excelência utilizadas, em grande parte, por uma minoria de bem-nascidos que não precisou estudar em colégios públicos; política de juros altíssimos transferindo dinheiro público para a especulação financeira, em detrimento dos investimentos em prol do país (para se ter uma ideia, FHC jogou, em oito anos, 300 Itaquerões em juros para especuladores, sem retorno algum; Lula continuou uma política de juros altos e eles só foram cair com Dilma, gerando gritaria entre banqueiros e velha mídia).
Ou seja, a questão não é a Copa e a Olimpíada. O buraco é muito mais embaixo.
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