quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Bienvenidos!



O Brasil tem hoje 1,8 médico por mil habitantes e é pouco. Para subirmos a 2,5 (para se ter uma ideia, a Argentina tem três), serão necessários 168,4 mil novos médicos. As faculdades de Medicina brasileiras fornecem ao mercado apenas 18 mil formandos por ano e há cidades que, mesmo pagando salários em torno de 30 mil reais, não conseguem atrair um único profissional porque a preferência (e não sem razão) é pelos grandes centros, com maior infraestrutura para trabalhar.

A notícia de que 4 mil médicos estrangeiros já estão chegando ao país, depois de oferecidas todas as vagas disponíveis aos profissionais brasileiros, é uma vitória contra resistências de entidades que gritam mais por interesses classistas do que pela vida das pessoas. 

É claro que o melhor dos mundos seria ter um misto de Sírio Libanês e Albert Einstein público em cada cidade, com estrutura impecável tanto ao paciente quanto ao profissional. Entretanto, essa é uma realidade rara até em países ricos, simplesmente porque no capitalismo a saúde também é subordinada ao lucro e prova disso foi a enorme resistência que Obama teve no Congresso para tentar criar um sistema de saúde pública nacional nos EUA, quando vários congressistas republicanos gritaram que quem não pode pagar não merece ser carregado nas costas por quem paga (visão típica do protestantismo calvinista, muito forte em um país colonizado por puritanos e que considera a prosperidade material a salvação perante Deus).

A regra do "quem paga mais leva mais e melhor" vale para a educação e outros muitos serviços essenciais (esta semana mesmo, o desenho dos Simpsons ironizava a precariedade do ensino público americano em relação ao privado, realidade que nossa síndrome de vira-lata insiste em não acreditar). A diferença do Brasil é o tamanho do abismo que separa um lado do outro.

Temos uma medicina de primeiríssimo mundo para a elite da elite, mas o serviço desce aos porões do inferno aos que precisam de convênios mais simples ou do SUS. Somos a versão selvagem do capitalismo medicinal e isso é resultado de um país que foi governado 500 anos apenas por (e para) uma pequena parcela da população, que ocupa o topo da pirâmide. Essa mesma pequena e privilegiada parcela está disseminando ódio à vinda dos profissionais de Cuba, onde são raros os olhos azuis e os tipos George Clooney, mas a Medicina é muito mais abrangente que aqui.

Apesar da gritaria (a Veja já fala que os "petralhas" estão financiando a ditadura de Fidel), os cubanos estão chegando num momento em que 54% dos brasileiros apoiam a vinda de médicos de fora e, curiosamente, na semana em que, em Portugal, se lamenta o fim de contratos com 5 mil médicos também de Cuba). São palavras do presidente da Ordem dos Médicos de Portugal: "Os cidadãos que receberam os médicos estrangeiros ficaram satisfeitos. Não tinham médico e passaram a ter". 

Ora, pois!

Bienvenidos, hermanos latinos.

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