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A distinção entre mulher de família para casar e vadias só para transar é coisa de um passado distante e machista, já superado em um tempo de maior igualdade de gênero, certo? Infelizmente, não. E o mau exemplo parte justamente da mídia que se incumbe (e se acha capaz) de formar opinião entre adolescentes.
A revista Capricho, da Editora Abril (a mesma da Veja), publica em seu site uma reportagem intitulada "Garotos contam", da qual o mote é justamente diferenciar as meninas que são "só para ficar" das que são "para namorar".
A postagem já começa imperativa e, claro, em tom de onisciência masculina: "Fiquem bem atentas para descobrir se aos olhos de nós, garotos, vocês são garotas pra ficar ou pra namorar! Não adianta o garoto negar: a gente faz, sim, distinção. O que vai determinar isso é ação de vocês em vários fatores".
O manual de conduta do varão mirim da Capricho segue. Primeiro, descreve a garota "séria", "para namorar": "É aquela que apoia o garoto sempre, que está sempre ao lado dele dando carinho e atenção. Ela nunca vai deixar o cara. É ciumenta, mas no limite. Ela não sufoca!". Depois, lista as posturas condenáveis das "não sérias", que só servem "para ficar", ou seja, para usar e jogar fora: "É aquela que só quer curtir a noite e, assim que fica com um garoto, já sai fora [sic para o pleonasmo da revista] para ficar com outro. Assim não dá, né? Ela não aceita o garoto como ele é. Ela controla o cara. Ah, e se ela for vulgar demais, não rola nem para ficar".
O que a Capricho faz com a escolha desta pauta e a forma como a conduz (em via de mão única) só reafirma diante das novas gerações o que sempre foi imposto às mulheres, durante séculos: a submissão aos homens. Eles podem ditar as regras, elas não; eles podem controlar e ter ciúmes, elas não; eles podem transar com todas pois serão admirados pegadores, elas não pois se tornam vulgares execráveis. Além disso, a revista se apega a modelos pré-estabelecidos e moralistas, com a velha dicotomia entre certo e errado e entre quem manda e quem obedece.
Alivia-me o fato de a Capricho ser um do muitos títulos da Abril que rastejam rumo à morte do velho modelo de comunicação. Acredito, portanto, que a reportagem não retrata a realidade da maioria dos adolescentes, com cabeças muito mais abertas, conexões mais plurais e indiferentes às pautas ditadas como "verdades absolutas".
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