Paulo Gracindo, brilhante como Odorico |
Os últimos chiliques de Joaquim Barbosa ofendendo um colega ministro do STF mostra que ainda somos um país acostumado aos desmandos de coronéis, onde a democracia engatinha, tendo muito a aprender para se consolidar verdadeiramente.
Fomos massacrados como nação por 20 anos de ditadura militar, um ciclo de governos de coronéis fardados, torturadores, assassinos e ainda impunes porque não foram julgados nem condenados pelos crimes que cometeram. Ironicamente, muitos desses coronéis continuaram nas várias esferas do poder- e eleitos democraticamente.
A ditadura acabou e entrou Sarney, o coronel proprietário do Estado mais carente em índices sociais, governado (e sugado) por uma única família há décadas. Depois, veio Collor, o coronel das Alagoas, inventado por uma mídia também comandada por coronéis metidos a intelectuais e donos da opinião pública.
O escândalo que se revela nas licitações de metrô e trens de São Paulo, dirigidas, superfaturadas e feitas sob conluios escusos entre empresas multinacionais e governos, escancaram um coronelismo de duas décadas sob comando de um único grupo político que, tal qual a família Sarney no Maranhão, se acha dono de São Paulo, o Estado "moderno" mas tão atrasado quanto qualquer outro nas relações de poder. Atrasado ao ponto de ter um deputado coronel gospel, que comanda a Comissão de Direitos Humanos e nada mais faz senão ditar ódios e condutas "morais" através das leis.
Desde o ano passado, todas as instâncias coronelistas de poder do país (políticos, juristas, mídia e instituições diversas) se engalfinham em franca campanha eleitoral para 2014, cada um tentando destruir o outro da maneira mais rasteira possível (bem ao estilo dos jagunços do passado). Querem o poder de qualquer forma, mas nada dizem sobre seus projetos para o país, sobre o que farão se eleitos.
Tal qual o lendário Odorico Paraguaçu, personagem de Dias Gomes que retrata de forma perfeita o coronel brasileiro, as lideranças que disputam a joia da Coroa não conseguem sequer terminar uma frase que não seja repleta de "entretantos" sem chegar aos "finalmentes" como diria Odorico. Balbuciam, mas nada dizem de conteúdo.
Estamos repletos de Odoricos governadores, senadores, prefeitos, baluartes do Judiciário, empresários (e até chefes capatazes de empresários), donos de emissoras de TV, donos de revistas, donos de jornais. São todos candidatos a comandar o Brasil, mas com projetos que não transcendem os interesses próprios, pessoais, mesquinhos, egoístas.
Precisamos guilhotinar os Odoricos, em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade (emprestando o lema da Revolução Francesa, que cortou os pescoços da monarquia européia mas ainda não chegou por aqui). Enquanto não fizermos isso, nossa democracia será vazia como os discursos dos coroneis.
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