É emblemática a venda do jornal Washington Post para a Amazon, pois traduz o sinal dos tempos: a nova era engole a velha. No caso, o digital engole o papel.
O modelo de negócios que sobrevive desde a revolução de Gutemberg está se esgotando e os impressos sangram por todo o mundo. Sorte dos que conseguem ter algum valor de mercado para ser vendidos, pois o caminho natural é o encerramento das atividades. O valor de venda do Post (250 milhões de dólares) é muito menos do que ele já valeu, mas se explica nos 50 milhões de perdas da empresa só no último semestre.
O Washington Post é um dos títulos mais importantes do jornalismo mundial. Foi ele quem revelou o Watergate, sequência de reportagens investigativas que culminou na queda do presidente Nixon, nos EUA, case dos cases nos cursos de comunicação (eu mesmo já dei muitas aulas sobre o caso).
A história do Washington Post gera os mais diversos tipos de saudosismo, mas a lei de mercado não tem sentimentos nem consideração, ela só tem uma regra: oferta e procura. E o que ocorre hoje é muito simples: as pessoas estão deixando de ler um produto que demora 24 horas para se atualizar, suja as mãos e é um trambolho desajeitado perto de um smartphone. Como consequência, os anunciantes migram para onde migrou o público leitor: a internet.
O "Post" é apenas mais um engolido por esse fenômeno. Aqui no Brasil, vários grandes títulos impressos já desligaram suas rotativas nos últimos anos, como Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, Diário do Povo, mais quatro revistas da Editora Abril, mergulhada numa crise insolúvel, e outros tantos que ainda virão.
Tudo isso ocorre porque a revolução em curso não é apenas de plataforma, não é como a chegada da cor aos jornais ou do rádio e da TV. A nova era quebrou a fórmula emissor-receptor, oferecendo a todos um poder de mídia inédito. Não se trata, portanto, de mais uma mídia, mas de um novo modelo em que aquele leitor que lutava para ter três linhas publicadas no setor de cartas de um jornalão hoje cria seu próprio blog, seu próprio Face, seu próprio Twitter, que podem ser muito mais lidos que o próprio jornalão.
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