sábado, 24 de agosto de 2013

Vocação versus soberba



"Nós somos médicos por vocação e não por dinheiro. Trabalhamos porque nossa ajuda foi solicitada, e não por salário, nem no Brasil nem em nenhum lugar do mundo". As palavras são de Nélson Rodríguez, médico cubano que acaba de desembarcar no Brasil, neste sábado, uma postura bem diferente do que um brasileiro dizia sobre os cubanos, ontem.

João Batista Gomes Soares, presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, vomitou calúnias contra os profissionais de outros países e ameaçou com práticas antiéticas, orientando médicos brasileiros ligados ao seu conselho a não atenderem os pacientes "vítimas" de erros que ele "previu" que vão ser cometidos pelos cubanos. Uma afronta ao que os próprios médicos juram fazer quando formados.

As palavras do cubano são uma aula de medicina e humanidade, pois nos ensinam que acima do cifrão está a vida, e que o dinheiro deve ser uma consequência do que fazemos, não a causa. Já o odioso discurso do brasileiro escancara um país onde, historicamente, a saúde carece tanto de vocação quanto de solidariedade, pois está atrelada ao dinheiro, é boa só para ricos, um negócio milionário que levanta impérios particulares ditos "beneficentes" (repletos de isenções do poder público, mas onde a imensa maioria da população não tem condições de arcar com os custos do atendimento) e uma indústria de convênios que lucra horrores com muito mais clientes do que pode, de fato, atender.

Nossa saúde está doente de soberba. Muitos dos profissionais que nela trabalham sequer entenderam que o jaleco branco não é um manto de superioridade com o qual se desfila até em restaurantes no almoço (como vejo todo santo dia aqui em SP), mas um uniforme que deveria indicar ao paciente limpeza, clareza, segurança e proteção.

Bem-vindo ao Brasil, doutor Rodríguez!

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