quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Mazela privada


Carta Capital toca em um ponto muito interessante da saúde brasileira na capa deste fim de semana: o problema vai além do setor público, pois ele também está em empresas privadas que operam convênios. Não é só no SUS que se escancara a demora por atendimento e qualidade ruim: experimente precisar do plantão de um convênio mediano em um domingo e verá que pouco diferem.

Quando fui editor de jornal, fiz uma pauta abordando essa questão. Três repórteres se revezaram tentando marcar consultas para o setor público, para convênio e para atendimento particular. Foi um belo trabalho jornalístico. Chegamos a um abismo que separa o serviço particular pago por consulta das outras duas modalidades, tanto convênios quanto o SUS (no SUS, se constatou demora maior, claro, mas a diferença dos convênios não eliminava o descaso).

Quase fui fritado pelo setor comercial do jornal na segunda-feira, dada a pressão que empresas de convênio, anunciantes, fizeram por causa da manchete de capa que dei no domingo. Essa reação, aliás, explica por que muitos veículos da velha mídia não tocam no problema dos convênios: ora, eles investem no jornal, enquanto no setor público pode bater à vontade, pois é de todos e não é de ninguém.

Essa realidade não se vê apenas em empresas que prestam serviços na saúde, mas também na telefonia, internet, bancos ou operadoras de cartões de crédito. Você paga infinitas taxas a elas, mas tente ser bem atendido, tente falar com um ser humano do outro lado da linha que, além de despreparado, desparece após a primeira ligação e depois vem outro que sabe menos que o primeiro.

A mazela brasileira não é só pública. É muito privada!

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