Viola Davis, Oscar pela brilhante atuação em Histórias Cruzadas |
Ontem uma jornalista disse que as médicas cubanas têm cara de empregada doméstica e não se impõem pela aparência. Pois eu sou jornalista e não vejo diferença alguma entre a importância do trabalho de um médico, de um jornalista e de uma empregada doméstica. Aliás, eu sou jornalista e empregado doméstico de mim mesmo, pois sou eu que limpo meu banheiro, arrumo minha casa e faço minha comida.
O que seria ter aparência de médico? Vestir grife? Usar perfume da Channel? Ter carrão importado na garagem? E qual a tradução para "se impor pela imagem"? Seria humilhar os outros mostrando-se superior apenas por ter dinheiro para comprar roupas e acessórios mais caros para pendurar no corpo?
Jornalistas juram defender a verdade acima de qualquer coisa. Médicos juram defender a vida. Empregadas domésticas não precisam jurar nada em cerimônias pomposas e cheias de hipocrisia, mas seu juramento é diário: necessitam cumprir, na prática, um papel fundamental na vida de qualquer um, mantendo um lar digno e habitável. Da mesma forma que necessitamos cuidar da mente e do corpo, com verdade e saúde, precisamos cuidar da nossa casa. Não há hierarquia de importância entre quem desempenha um ou outro trabalho.
O Brasil cuja elite se escancara xenófoba, hostil e fascista está precisando de mais empregadas domésticas, de pessoas humildes e batalhadoras que arregacem as mangas para limpar a sujeira que não está apenas nas paredes, mas na índole. Estamos precisando de mais pessoas que não se imponham pela aparência, mas que saibam conviver com respeito e dignidade.
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