A cena é deprimente. Um médico cubano, negro, segue no aeroporto de Fortaleza para trabalhar em um lugar onde nenhum dos nossos profissionais quis, mas duas médicas brasileiras o vaiam. A atitude é isolada, já que a maioria da população (segundo pesquisa recente do Datafolha) apoia a vinda de médicos estrangeiros, mas retrata uma hostilidade egoísta, corporativista e desumana da elite brasileira.
As vaias das duas médicas que humilham o profissional cubano em público, assim como as calúnias e ameças antiéticas do presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas contra profissionais de fora e a distorção ideológica feita por vários conselhos de classe e partidos de direita contra o programa Mais Médicos, escancaram o modelito preferido dos senhores feudais da pátria amada, salve, salve: grande parte deles veste jalecos brancos.
Revela-se em muitos dos que praticam a medicina, uma das profissões mais importantes desde a primeira descoberta científica da humanidade, um rancor classista e odioso no Brasil, protagonizado por barões da saúde privada e altamente lucrativa, ecoando também em seus capatazes bem nascidos, bem pagos e privilegiados por poderem escolher onde trabalhar, querendo também manter pessoas sem atendimento em nome de uma bizarra reserva de mercado.
Sim, existem médicos brasileiros que não são filhos de ricos; existem médicos brasileiros comprometidos com a saúde acima do dinheiro; existem médicos brasileiros idealistas, batalhadores e humanistas. Porém, se escancara nessa profissão (justamente a profissão que lida diretamente com a preservação da vida!) a caricatura da elite que ecoa das Capitanias Hereditárias, tão arrogante quanto cruel, tão mesquinha quanto hostil.
Os riquinhos de branco são uma vergonha para um país que começou a abrir suas senzalas.
Os riquinhos de branco são uma vergonha para um país que começou a abrir suas senzalas.
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