Uma das coisas que mais lembram meu pai é o amanhecer. A gente acordava, principalmente quando viajávamos ao litoral, e ele já havia comprado pão quentinho, feito café e estava lá, fazendo de tudo para servir a família. Ele adorava agradar - e agradava.
Nos domingos especiais, a gente pedia que ele fizesse seu inigualável nhoque. E lá ia o Sr. Gerson tomar toda mesa com farinha e batatas pela manhã, enquanto a gente conversava em alto volume de descendentes de italianos, ao sabor de vinho tinto. Era proibido se servir, pois ele é quem servia a todos.
Quando eu disse que ia fazer jornalismo -e tinha de ser em São Paulo-, indagou se eu ia ganhar dinheiro, mas mesmo um tanto contrariado me apoiou e suou a camisa para me ajudar desde cada dia dos estudos na Capital até a necessária volta ao interior. Ele lia tudo o que eu fazia nos trabalhos como repórter ou editor, e era o primeiro crítico a apontar, já no amanhecer: "Tem um ero aqui!". Era meu adorável ombudsman, sempre desejando que eu fizesse o melhor.
Quando eu falei que queria mudar tudo na minha vida e voltar a São Paulo, para estudar mais, trabalhar e viver aqui, ele refletiu, torceu o nariz, mas de novo entendeu, apoiou e, durante esse processo, não havia um dia que não me perguntava: "E aí, novidades?". As novidades chegaram sem tempo de ele comemorar comigo, mas tenho certeza que esteve ao meu lado, nos ensinamentos que me deu sobre ética, valores e trabalho, assim como em energia, espírito, seja lá o que for.
Num momento de desavenças sobre minhas escolhas e descobertas, fez questão de me dizer: "Seja você e eu sempre serei seu pai". Ali, ele me mostrava o que a paternidade tem de magnânimo.
Hoje é apenas uma data comercial que nos motiva a comprar presente ou lamentar a ausência de quem iríamos presentear. Dia que nos permite até o saudosismo piegas (e aqui vai o meu), mas que também serve para nos lembrar que todos os dias são de saudade, essa palavra que nós, brasileiros, sabemos tão bem o que significa.
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